quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Pausa estratégica

Pois é. Férias para todos na Europa, menos para mim e para minha amiga e cumplice de blog. Estamos concentradas nos estudos acadêmicos que vão revolucionar o mundo.
Voltamos em breve.
Beijos

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O cúmulo da organização das tarefas

Eu não tenho o que falar mal do serviço público de saúde britânico. A não ser me mandarem pegar um ônibus que demora 40 minutos para chegar onde Oscar Wilde perdeu as botas pra fazer um simples exame, sempre fui atendida com presteza e simpatia, e alguma demora vez por outra em nada se compara às manhãs inteiras perdidas na sala de espera da minha dermatologista em terras tupiniquins.

Sei de histórias péssimas. Amiga e companheira de bolsa de estudos levou sete horas em hospital porque ninguém levava a sério a dor muscular que acabou virando algo pior só pela demora. Não tiro a razão, só não caiam no erro de comparar o serviço público da Inglaterra com o serviço particular de saúde do Brasil. Se a comparação for com o SUS, claro que a rainha está a anos-luz na frente.

Tanto que recebi esta semana o exemplar mais britânico possível de um procedimento de saúde. Cartinha agradecia minha presença ao local do exame, informava que o resultado tinha sido normal, e que novo exame só precisaria ser feito em 2011:

"Quando vier fazer o exame, favor trazer o formulário em anexo".

To be or not to be. Metódico!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Camping, lama e rock 'n roll

Sobrevivi à minha última aventura jovem. Pronto, cansei. Anuncio minha aposentadoria. Megafestival de rock no interior da Inglaterra. Milhares de pessoas. Quatro dias de paz e amor, uma reedição do Woodstock que não vivemos. A perspectiva romântica sumiu no momento que comprei o ingresso. Eu, num festival de rock? Eu, dormindo em barraca de camping? Ai.

Os amigos deram aquela força: “Leva bota sete-léguas que chove o tempo todo”, me disse uma. “Se prepare para passar quatro dias sem tomar banho”, zoou o outro. Frio, lama, dormir mal, comer mal, ficar suja?? Aaaai. Da lama ao caos.

Como não sou de desistir de nada e não ia deixar os amigos na mão, rezei secretamente para que não chovesse muito, peguei minhas novíssimas botas vermelhas de florzinhas brancas e enfrentei com ácido bom-humor as cinco horas de ônibus (!) até o local do evento.

Claaaaro que chovia quando cheguei, claaaaro que eu era a única pessoa no lugar que não se tocou em levar capa impermeável, claaaaro que todas as minhas roupas ficaram encharcadas na uma hora que passamos pra encontrar os amigos que já estavam animadíssimos por um dia de música e vodca, claaaaro que se alguém tivesse me dito “Estou voltando agora pra Londres” eu me ajoelharia e daria as últimas libras esterlinas da minha parca bolsa de estudos para voltar para a minha residência estudantil que nunca me pareceu tanto com um lar, doce lar. Dane-se o prejuízo. Salvaria a minha dignidade.
Mal sabia eu que os alegres participantes iam gritar a noite toda no nosso ouvido (quem manda montar a barraca na beira do caminho de pedestres?), as botas me apertariam horrores e Amy Winehouse daria um soco num cara da platéia (pois é, eu tava lá). Fora que testemunhei os limites da degradação humana – sabe como esse povo jovem se excede e não consegue sair da lama. Literalmente.

Eu não sou fresca, mas andar 40 minutos para chegar à fila do chuveiro e enfrentar banheiros químicos a partir do terceiro dia de festa não é exigir muito: é esporte de alto risco! No fim das contas, dormir em barraca foi a parte mais confortável do pacote!

Mentalizei que nunca seria tão feliz como quando tudo acabasse e assim se foram os quatro dias de semipaz (o numero de crimes dobrou, se bem vocês acham que 372 crimes em quatro dias num lugar onde estão 172 mil pessoas é muito?) e pouco amor (me reclamou um brasuca que ninguém pegava ninguém; e eu sou testemunha que ele bem que tentou). Eu, corações a pipocar, achei ótimo não ter a azararão inconveniente de uma equivalente festa tupiniquim. Balanço final: adorei ter ido. Principalmente quando voltei. : )



Momento-clichê
Eu, no alto da minha versão 3.1.1 – menos bugs, mais funcionalidades –, prometi a mim mesma só voltar quando inaugurarem um modelo de acomodação revolucionário que atende pelo nome de suíte. Enquanto isso, vovôs e vovós passeavam alegremente como se estivessem, eles mesmos, dormindo em camas confortáveis e visitando regularmente banheiros privativos. Ser jovem é mesmo uma questão de espírito.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Elas são profissionais !

Impossível competir com as asiáticas quando o assunto é liquidação. Antes de começar a temporada de descontos, elas já experimentaram todas as roupas. No dia D, às 8 da manhã elas já esperam na porta das lojas e vão direto pegar o que interessa. Além disso, como andam em grandes grupos, ao chegarem nas lojas, elas se dividem numa estratégia militar. Cada uma prum canto e, pelo celular, entre risinhos, elas saem pegando todas as peças boas.
Não bastasse isso, sendo realmente magras e baixas, elas conseguem pegar aqueles vestidos mais bonitos que só existem em tamanhos minúsculos ou sapatos de marca que só têm em tamanho 33.
Enquanto eu fico lá na fila por 15 minutos pra experimentar uma blusa que me deu efeito de cão sharpei, elas já compraram meio estoque. Elas têm muito dinheiro pra gastar.
Meu balanço da liquidação que terminou dia 2 de agosto e durou 4 semanas foi meio caído: um par de sapatos, uma cortina e um cardigã da Zara. O que eu levei $ semanas para comprar, as asiáticas comprariam em 10 segundos. Aliás, para conseguir pegar o último modelo preto do casaquinho no meu tamanho, tive que deixar meus pudores de lado e empurrar pessoas e ser empurradas por muitas, incluindo velhinhas. E crianças. É triste, mas uma etiqueta onde está escrito "- 70%" revela o que há de pior em nós.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Juro que ouvi

Este blog não pretende servir de auto-ajuda pra ninguém, mas nossas peripécias bem que poderiam servir como lição de vida. Tipo: não participe de uma conferência enquanto estiver escrevendo sua dissertação. Você corre o risco de ficar com um olho nas apresentações e outro no texto final da tese, e perder o sentindo de algumas pérolas do conhecimento. Se alguém se prontificar pra desvendar essas aparentes verdades absolutas universais, agradeço muitíssimo.

Só para contextualizar, era uma conferência de tecnologia. Apesar de não parecer nas citações a seguir:

"Uma laranja é uma laranja. E uma maçã é uma maçã. E você pode pegar uma delas e estar deliciosa. Ou você pode pegar uma delas e estar sem gosto."

"Se você perguntar para o povo mediterrâneo, eles sempre reclamam. Se você perguntar para os nórdicos, eles não reclamam nunca."

E a minha preferida, dita por uma cientista chinesa muito confiante no que dizia:
"Você tomaria um café com alguém em quem não confia? A resposta é óbvia."

terça-feira, 29 de julho de 2008

Reflexões politicamente incorretas

A cela que Radovan Karadzic vai ocupar na prisão do Tribunal Internacional para a ex-Iugoslavia tem 15 m2. Dizem na tv que tem uma estrutura de quarto de estudante, com cama, mesa, estante, computador (sem internet), televisão e banheiro individual. Os prisioneiros também têm biblioteca e sala de esportes. Vi varios quartos de estudante muito piores por aqui em Paris. Imoveis sem banheiro e até sem janela.
Moral da historia: A soluçao para o estudante morar bem é cometer um genocidio e ser julgado pela corte em Haia.

sábado, 26 de julho de 2008

Me integrando e girando

Os franceses, apesar da fama de serem blasés, bem que gostam de uma festinha.

Cartazes colados pelo meu prédio avisam da "festa dos vizinhos". Grande oportunidade para interagir e comer. Cada um leva comidinhas - queijos, tartines, tortas, tomatinhos etc - e bebidas. Normalmente, é uma espécie de pique-nique entre vizinhos. Mas onde eu moro, é óbvio, nada pode ser muito normal. O casal de vizinhos gays, uma espécie de promoters, resolveu fazer a festa de vizinhos definitiva. Um vizinho polonês que toca caixa numa bateria de uma peseudoescola de samba de Paris ficou responsável pela animação musical. O zelador montou uma tenda para abrigar o "show".

Dias antes da tal festa, cartazes pelo prédio avisavam para os pais providenciarem protetores de ouvido para as crianças, pois o "samba de Brasil" faz muito barulho. Um vizinho videomaker fez o clipe promocional para a festa. Momentos de tensão para mim. Bateria de escola de samba, vizinhos, eu sou brasileira. Uma hora, é claro, ia sobrar para mim.

Começa o ziriguidum multicultural. Palev, o polonês, passou meia hora antes preparando e se aquecendo como se fosse correr uma maratona. O mestre de bateria, do Vietnã, se sente o próprio carioca com seu apito. Os vizinhos franceses, com suas echarpes e copos de vinho, acenam a cabeça animadamente. Animadamente dentro conceito francês, é claro.

Gui, o zelador, começa a se animar. Há dois anos ele está em depressão causada pala morte da esposa. No dia da festa, para espanto dos vizinhos, Gui ameaça uns passos de mestre-sala, acena para o ar com os braços, sacode os ombros, faz um movimento de "air percussão". Ele sabe que eu sou brasileira e se espalha: "Ela é brasileira, ela vai ensinar todo mundo a dançar". Ai, meus sais. Ele não se conforma com meu estilo low profile e eu não estava a fim de encenar o numero do "povo brasileiro que é alegre e dança apesar das dificuldades". Mas, não tem jeito, é brasileiro no exterior, tem samba, não há escapatória: é preciso dançar. Gui me tirou pra dançar. Muitos rodopios e sorrisos de todos e muitas fotos. Eu e Gui, o improvisado casal de mestre-sala e porta-bandeira franco-brasileiro fomos o sucesso da festa.

Como não poderia faltar, um pequeno comentário de Gui: "Samba é tipo rumba, né?"

P.S: O video é a visão de samba do Gui e de sua geração.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Juntando as escovas de dentes

Amiga do blog que saber: é só com ela ou os homens de repente passaram a propor happy ends com direito a casinha e pimpolhos? Será que para os rapazes, finalmente, o 30 é o novo 30 (em alguns casos mais jovens, o 20 é o novo 30)?

Eu e a Cíntia atestamos: é uma tendência internacional.

E pensar que nossas ambições na Europa se resumiam a usar tênis, mochilas e roupas curtas...

sábado, 19 de julho de 2008

Pausa pro verão

A gente jura que volta. É que a combinação verão + promoção de passagem aérea + summer job/ job d'été + dissertação não deixa muito tempo pra mais nada.

sábado, 14 de junho de 2008

Eles não sabem fazer festa

Vi a família real toda. Agora já posso voltar pro Brasil. : )

Estudante que é estudante aproveita grandes eventos oficiais para se divertir. Gratuitos, rendem sempre boas fotos e histórias pra contar. Ainda dá pra jogar o caô de imersão na cultural local. Mas fico sempre com a sensação de que o povo aqui não sabe fazer uma festa.

Aniversário oficial da rainha. Dia lindo de junho. Milhares de pessoas nas ruas. Esperando. Caladas. Eu e meu grupo internacional fazendo piada o tempo todo, arrancando risinhos pelo canto da boca do resto do público, enquanto eu desconfiava que eles estavam sendo apenas britânicos demais para não mandar a gente ficar quieto.

Agora mentalize a mesma cena no Brasil. Risadas altas, rapazes sem camisa, moçoilas de shortinho, clima de pegação no ar, possível batucada, torcedores adversários gritando xingamentos baseados nos últimos resultados do futebol, algum empurra-empurra, eventuais gritos de motivação. “Inha, inha, inha. Queremos a rainha.”

E todo mundo de olho no celular+carteira+câmera digital, que nunca se sabe.

Também não acredito que a gente conseguisse seguir pontualmente o ritual que reza que às 10h os guardas começam a marcha, às 10h40 a rainha desfila em carro aberto, às 11h começa a vistoriar a guarda, e às 13h aparece no palácio para acenar para a multidão e ver o desfile dos aviões. Mas vai que isso é só preconceito com o jeitinho brasileiro. Ou trauma de desfile de 7 de Setembro.

Alguém acha mesmo que uma celebridade apareceria desfilando na nossa frente e tudo o que a gente faria seria tirar foto e aplaudir? Nenhum grito de “iu-hu”? Nenhum “Aê, gostosa”? Ok, pode não ser o mais apropriado pra falar pra rainha, mas vocês sabem como esse povo brasileiro é irreverente.

Fora que aqui se perde um grande nicho de mercado. O negócio demora umas 3 horas e fica todo mundo paciente. Parado. Esperando. Nem as crianças choram! Três horas no sol e não tem um cara vendendo água! Só gente vendendo bandeira da Inglaterra. Por duas libras!! Cadê o churrasquinho? O sorvete? O algodão-doce? A cerveja estupidamente gelada?

E tudo isso pra ver a família real de longe? E tirar umas fotos que não ficam boas? Ok, tudo vale a pena quando o príncipe William lhe dá tchauzinho a dois metros de distância. E olha que eu não gostava de rapazes mais novos. ; )

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Micro post de dia dos namorados

Me lembrem no proximo ano de nao me empolgar com megapromocoes de teatro em junho. Assistir a quatro musicais seguidos perto do Dia dos Namorados deixa a gente muito romantica.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Por que as pessoas ficam felizes no verão londrino

Ai' vc vai dar uma volta na cidade, um dia de sol qualquer, e se depara com uma promocao qualquer, de uma marca de underwear qualquer, numa esquina qualquer, com uns rapazes assim, meio bonitinhos, quaisquer.





segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cabelo conceitual

Meu cabelo não resistiu bem a um experimento cosmeto-cientifico-capilar-revolucionário que prometia deixar meus cabelos com a maciez da seda. Resultado: ressecamento intenso dos meus pobres cachos. Nessa fase de recuperação, tive que fazer o sacrifício supremo de abrir mão da escova e, enquanto Armand curte suas férias em Israel, sai por ai à procura de um novo profissional. Mesmo sendo estudante, estava disposta a torrar uma verba substancial na empreitada.
Vou a um renomado cabeleireiro parisiense (não vou fazer propaganda). De longe, o fulano me pergunta: "Esse cabelo ai é seu?"
Eu, humilde, digo: "Oui".
"Olha", diz o renomado cabeleireiro, "esse cabelo seu não esta fazendo nada de bom por você. Eu proponho um corte radical meio curto com uma franja assimétrica e muita hidratação. Vai ficar otimo, porque esse seu cabelo ai morreu". Ele me disse assim na minha cara e me deu um cartão para eu marcar uma hora para o seu caríssimo corte. Fiquei arrasada.

Fui em outro renomado salão nos Champs Elysées. E mais um ataque de sinceridade extrema: "Enquanto seu cabelo se recupera, a gente podia colocar um megahair[hmmm, tenho uma certa meda de colar cabelo de terceiros, enfim....] com uma franja em dégradé para suavizar essas suas bochechinhas de bebê". [comentário desnecessário, hein].
Um megahair de cabelo 100% indiano [o melhor do mercado, dizem] custa 1000 euros. Hein? Merci!

Entro no metrô desiludida e dou de cara com um editorial de uma prestigiada revista de moda sobre cabelos de verão. Segundo a revista, a tendência do verão 2008 é um cabelo ressecado com cara de quem saiu da praia. "Um look assim meio destroyed como aqueles cabelos dos anos 80 que passaram por vários permanentes", explicou o hair stylist. Para obter o visual, o tal famoso hair sylist dava umas dicas de pomadas e cremes carésimos e uma técnica de usar um pente fino para dar um look ressecado. As moças pareciam felizes nas fotos com suas jubas ressecadas e óculos de sol enormes.
Pensei cá comigo. Esse povo vai gastar uma fortuna para ficar com o meu look ao acordar. Meu look 100% gratuito. Olha ai. I love fashion!
Pronto, decidi. Até o final do verão vou guardar o meu cabelo ressecado. Não é desleixo, it's fashion baby.

terça-feira, 27 de maio de 2008

perfume de primavera

O calor esta chegando e, com ele, o mau cheiro do metrô. Essa é uma triste realidade em Paris. Ha um deficit crônico de desodorante das horas de rush.
Oito da manha, linha 4 (a pior), as portas do vagão se abrem e vem uma nuvem invisivel de cecê. "Eu tomei banho, não sou eu. Tenho certeza", reflito. Olho para os lados atras do possivel vilão enquanto os parisienses seguem tranquilos lendo seus jornais e livros-cabeça sem se importar com a murrinha dos companheiros de metrô. Eu não consigo disfarçar. Enquanto não encontro a (as) fonte (s) do mau cheiro, não sossego. De tanto observar, encontrei uma espécie de padrão para os fedidos do metrô. Isso me ajuda a escapar de uma viagem desagradavel. A importância de estar preparada.
Eis os culpados:
1-Se esta calor e tem um senhor de paleto de veludo ou gola rolê... podem apostar. Ele é um forte candidato.
2-Alguém com uma jaqueta que parece jeans lavado, mas de perto da para perceber que é um jeans amarelado de sujeira. Hmmm
3-Roupas étnicas. Apesar de serem amplas e rodadas, como na maioria das vezes esses tecidos afro ou indianos são sintéticos..., é fedor na certa
4-O turista de regata, suado, cheio de malas e sacolas de viagem

Bônus: Eu também culpo a publicidade. Na televisão, passa um comercial de um desodorante que promete durar 72 horas. Muita gente deve ter acreditado nisso. Aviso: não é verdade!

Momento Ronaldo:

Entro do metrô e vejo três criaturas extremamente maquiadas e sentadas. Caladas, passam o trajeto lendo revistas de fofoca. Pés e mãos grandes, mas com os colares de muitas voltas no pescoço, não dava para perceber se havia ali ou não

sábado, 24 de maio de 2008

Alalaô, ôôô ôôô. Ai que calor, ôôô ôôô

A gente reclamou, reclamou, reclamou. Mas agora que os dias congelantes de inverno passaram e não temos que carregar mais nosso casaco gêmeo pelas ruas de Londres e Paris, uma triste constatação: o mundo dito desenvolvido não está preparado para o verão.

Indício 1: transporte público
Os glamourosos ônibus vermelhos de Londres viram verdadeiras saunas ambulantes. É mais agradável estar do lado de fora, embaixo do sol.
Momento Pollyanna: chegar ao ser destino e sentir a brisa da rua é uma pequena felicidade.

Indício 2: moda
Se a obrigação de estar protegido do vento gelado faz os casacões disfarçarem o mau gosto, sob o sol de rachar toda a ousadia fashion aparece em uma explosão de criatividade, com resultados duvidosos.
Momento Pollyanna: essa é a grande chance para nós, brasileiras, mostrarmos nosso diferencial competitivo.

Meu testemunho
Eu achava que era balela, mas não é que as pessoas ficam mesmo mais felizes só porque está sol? Pergunta: será esta a explicação para o mito da alegria insuperável do brasileiro?

Se o efeito colateral para todo mundo é positivo, meu relógio interno tá doidinho da silva. Venho de uma cidade onde 18h significa noite. Não tem como querer jantar se 19h parecem ser três da tarde e se 21h parecem ser cinco e meia!!

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mochila nas costas, pé na estrada e mão fechada

Fazia tempo que eu não fazia uma viagem como estudante COM orçamento de estudante. Eu não lembrava mais de detalhes como:

- ficar em albergue num quarto com um monte de gente significa dormir praticamente agarrada com sua mochila se você esqueceu de levar cadeado

- acordar às 5h30 da manha com o despertador da colega que esqueceu de ajustar o alarme para o horário local

- tomar banho de chinelo com nojo do banheiro coletivo

- café da manhã é sinônimo de pão torrado com manteiga e café

- chamar sanduíche de almoço

- comprar o jantar no supermercado

- usar métodos de autoconvencimento para evitar excesso de gasto com transporte. “Ah, são só 20 minutinhos andando. A gente vai aproveitando a vista”

- aparecer em t-o-d-a-s as fotos com o mesmo casaco porque não quis pagar taxa extra para despachar bagagem na companhia aérea de baixo custo (isso tem singular conseqüência se você gosta de alguma cor berrante, digamos assim, laranja)


Síndrome de excesso de estrada

Você sabe que está dirigindo há muito tempo quando...

... começa a chamar o equipamento de GPS pelo nome: “Ela disse pra dobrar à esquerda no cruzamento”

... depois de uma seleção com Celine Dion e canções gospel, Lionel Ritchie parece a melhor música do mundo (Nota mental: deixar dessa besteira de querer expandir os horizontes musicais e levar meu próprio CD na próxima viagem com amigos)

terça-feira, 13 de maio de 2008

No reino das piores cantadas

A gente gosta de uma criatividade, mas, na duvida, melhor não inovar. Nesse período de convivio internacional, já' vimos de tudo.

Categoria Bin Laden
Mocinha lutando para ser atendida no bar de uma boate de três andares no centro de Londres. Mocinho se encosta, mocinha olha feio e vê que se trata de um espécime do oriente médio.
Ele - E ai', tudo bem?
Ela - Tudo bem – e se vira pro balcão.
Ele – O que é que você faz em Londres?
Ela – Eu estudo – e se vira pro balcão.
Ele – Eu sou terrorista. – com risadinha irônica
Ela – ...

Categoria Velhinho safado
Eu e Cintia andávamos pelas ruas de Paris, gargalhando faceiras como sempre, quando três senhores com o dobro da nossa idade se animam com nossa juventude. Um deles abre os braços e manda:
- Nos somos tres, vcs sao duas.

Categoria "Eu não sou daqui"
Mocinho dispara para Cintia:
- Pelo seu jeito de andar, vc não é francesa
- ...

Mocinho nigeriano diz para mim num dia de look descontraido:
- Pelo seu jeito de vestir, vc nao e' europeia
- Really?

Mocinho libanês diz para mim num dia de saia e lenço no cabelo:
- Vc e' francesa?
- Hein?

Categoria humoristica
Cintia com uma amiga no Favela Chic de Paris:
- Nessa noite voce vai ser a Beyoncé (pra Cintia) (Cintia: Ahahahah)
- E voce a shakira (pra amiga da Cintia)
Detalhe: amigo ao lado fazendo figuração acenava com a cabeça

Em outra ocasião, tambem no Favela Chic, o brasileiro olha mim dancando e aponta pros amigos - O', ate' que ela samba direitinho.
(Eu: Ahahahah)

Categoria circense
Rapaz com chapéu entrega um pacote de cartas de baralho pra mocinha em pleno bar/boate descolada da cidade.
- O que eu faço com isso? – diz mocinha, semi-abusada, gritando para ser ouvida mesmo com musica alta da banda pretensamente de influencia latina.
Rapaz indica com mímica que é para escolher uma carta. Mocinha pega qualquer uma. Rapaz tira do bolso carta semelhante. Mocinha se surpreende, e comenta:
- Legal. Agora eu vou fazer a mágica de desaparecer.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Humor russo?

Na rádio onde eu trabalho, que tem redações em 18 idiomas, jornalista da redação russa leva a filhinha de 4 anos para a máquina de café.

Pai: E ai, filha, o que você quer?
Menina: Um chocolate quente.
Pai: Tem certeza que não quer um café e um cigarro?
Menina arregala os olhos. Muito.

Suspeito ter sido uma tentativa de tirada cômica, porque, depois de dar a deixa, o pai cai numa gargalhada incontrolável.

Só ele riu. Eu, brasileira, não ri. O cara da redação alemã também não. O moço do Laos, que geralmente vive rindo de tudo, também não. Nem a filha, que é metade russa, riu.

Pergunta do dia: os russos têm um humor inacessível ou o cara é sem-graça?

Bônus
Logo depois, outro conflito de humor, desta vez na redação portuguesa.

Russa: Posso usar a cabine de gravação?
Português: Pode, são 10 euros o minuto.

Ele riu, eu esbocei um sorriso.

A russa nem isso. Só repetiu a pergunta:
- Posso usar a cabine?

Pergunta: Os russos não têm humor ou o senso de humor é "diferente"?

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Londres congela - e não é de frio

18h24 de uma quarta-feira. Há um ano, eu estaria em plena reunião de pauta, relatando o fechamento de um caderno e prestes a começar a finalização da edição de uma revista. "Quartas são quartas", eu dizia, para justificar a ausência para amado, amigos, família, fontes, assessores.

Pois nesta quarta-feira, às 18h24, eu estava fazendo hora na Liverpool Street Station. Na flexibilidade da minha vida de estudante, me dei um intervalo no encerramento de dois trabalhos para testemunhar um mob*.

Precisamente nessa hora, dezenas de pessoas “congelaram” por quatro minutos, fazendo poses ora corriqueiras, ora inusitadas. Eis o Freeze London.


DR em plena estação de trem

Venta muito nessa cidade, sabe como é



“What the fxxx is that?”, se perguntava um senhor com jeitão inglês. Não era o único. Para quem participa dos eventos Freeze, parte da graça é deixar as pessoas pensando o que danado está acontecendo ali.

Depois dos quatro minutos, performers e público aplaudiram, e eu voltei pra universidade, que pra estudo não tem noite, madrugada, fim de semana ou feriado.



* Para saber mais sobre mobs, clique aqui (em português) ou aqui (mais detalhado, em inglês). Se tiver com preguiça e só quiser saber o minimo, mob é quando um monte de gente se reúne num lugar público para uma performance esquisita e depois se dispersa rapidamente.

** Para ver o Freeze London anterior , na Trafalgar Square, clique aqui.
** Para ver o Freeze Paris, clique aqui.
** Para ver o Freeze New York, clique aqui.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Shakespeare + ingresso de estudante = bolha

“Meus pés não estão me matando, estou bonita. Meus pés não estão me matando, estou bonita.”

Faz cinco dias que sofro por uma ousadia fashion. Tirei o salto alto do fundo do baú pra ir glamourosa para a abertura da temporada do teatro do Shakespeare, The Globe. Aniversário de nascimento e morte do bardo, Londres em festa com mil homenagens simultâneas. Sainha recém-chegada do Brasil e sandália que só usei um dia nessa temporada britânica. Tem uma estação de metrô do lado, pensei, o que podia dar errado?

Só que eu não sabia que tinha um passeio às margens do Tâmisa antes do espetáculo. Eu disse "passeio"? A caminhada era pra evitar que o grupo pegasse transporte público. Resultado do pseudo plano-perfeito-vida-de-estudante-no-exterior: agora tô com bolhas mil onde um dia deve ter sido a sola do meu pé.

Quem manda pirangar e ir pela excursão da universidade só porque era mais barato?

O dia estava lindo, é verdade, dispensei o casaco pela primeira vez em meses, é verdade, mas em vez de aproveitar a paisagem arrebatadora do centro da cidade, eu ficava aflita antecipando o que seria dos meus pés.

Pergunta: por que as pessoas acham que estudante gosta de andar? Tudo que é "pra estudante" envolve horas de caminhada!

Três horas e meia de espetáculo, com inglês arcaico e tudo, os colegas bocejando e eu feliz da vida, aliviada de estar sentada. Na hora do intervalo, o dilema: valia enfrentar o sacrifício de descer as escadas para um simples brinde oferecido pela excursão?

Ficava indelicado recusar. Respirei fundo e lá fui eu:

- Meus pés não estão me matando, estou bonita. Meus pés não estão me matando, estou bonita.


Insight pós-bolha: Agora eu sei por que já vi diversas pessoas trocando de sapato no metrô.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

I am too sexy for haute couture* ou como pagar 500 euros para ficar gorda

Missão do dia: com 100 euros no bolso me produzir inteira (vestido + acessórios) para ir a um casamento no campo na Normandia. Na minha cabeça, eu tinha um vestido ideal. Discreto, preto ou grafite de tafetá (eu ando muito tafetá).

Comecei minha missão por um bairro popular de confecções judaico-chinesas, o Sentier. Muitos problemas. A maioria das lojas só vende no atacado e os vestidos, digamos de festa, são de uma mau gosto incrível, as que aceitavam vender no varejo não tinham cabines e cada vestido era disputado quase a tapas por milhares de sacoleiras. Um horror.

Voltei pra casa desanimada. Me olhei bem no espelho, olhei pro catálogo das Galeries Lafayette e decidi encarar uma loja de departamentos realmente glamour.

Primeiro passo: camuflagem. Não dá para encarar Dior, Chanel e Prada com cara de estudante bolsista. Todo mundo é blasé em Paris, mas também não dá para exagerar e chegar com cara de passa-fome entregando que, para comprar o vestido da vitrine, seria obrigada a vender um rim.

Descobri o look ideal: despojada. All star, jeans, blusa preta, uma jóia discreta, porém verdadeira (o pessoal dessas lojas fareja folheado a ouro a quilômetros). E maquiagem, porque rico não tem olheiras.

Devidamente camuflada, fui para os braços do mundo fashion.

Dica importante: fazer cara de tédio para as coleções.

Muito importante: tocar a roupa apenas com a ponta dos dedos e fazer um longo suspiro com uma cara de boring. Na verdade, eu estava mesmo entediada. O que está acontecendo com essa temporada? Todos os vestidos seguem a mesma tendência de serem amplos. Ou seja, todos os vestidos parecem feitos sob medida para fazer a pobre moça se sentir um bujão de gás. Why? E o pior é ter que desembolsar 500 euros, em média, para ficar fantasiada de baiana. Até o manequim, que é basicamente uma armação de arame, parecia estar com culote com a roupa. Nem digo o efeito que o vestido corte trapézio cheio de babados me provocou.

Fui passando Chanel, Dior, Valentino, Marc Jacobs. Tudo me deprimia (pensamento de pobre: ainda bem que eu não tenho dinheiro mesmo, a coleção esta péssima). Cheguei a Miu Miu e vi um dos vestidos mais bonito de todos os tempos, marfim, lindo corte, mas nem ousei experimentar. Estava nítido que precisaria de 20 cm a mais, 20 quilos a menos e 2089 euros.
Passei para os sapatos e encontrei a felicidade.

Experimentei um par de sapatos Prada tão lindos que fiquei até mais magra. Dúvida: comprometo minha renda para ter que, literalmente, morar no sapatos?

terça-feira, 15 de abril de 2008

Minha primavera de 8 graus

Movimentei duas amigas queridas e recebi meu kit de sobrevivência para o verão londrino. Sim, a mala que eu trouxe inicialmente foi um erro. Prática e básica. E quem disse que eu sou prática e básica? Cadê as sainhas, os vestidos, os saltos? Ok, logo vi que as sandálias de salto alto ficam em desuso diante do tanto que se anda nessa cidade, mas mudar meu visual no início da temporada britânica comprometeu minha auto-estima. Não sou um ser de jeans e tênis, como me exigia a nova vida estudantil. Por isso o sucesso na comunidade internacional em momentos como dois posts abaixo. "Essa sou eu, não aquela que vocês conhecem", explico.

Pois foi só ver um solzinho tosco que vesti a sainha recém-chegada e fui desfilar. Claro que devidamente composta com meião de frio, blusa de manga comprida, cachecol e casaco. Friiiio.

Não demorei a encontrar um cara de chinelos enquanto eu tava andando toda encolhida.

Ai, que raiva.

Depois vi as meninas britânicas de minissaia ou minivestido sem meia por baixo.

Ai, que raiva.

O povo correndo de shortinho e camiseta.

Ai.

E eu mentalizando o conselho da Cíntia: "Não estou com frio, estou bonita. Não estou com frio, estou bonita".


Bônus (quase) científico da Cíntia:
Anos atrás quando morava em Nova York, li no NY Times que...
... casos extremos de hipotermia levam a um delírio e as pessoas começam a tirar a roupa. Na verdade, essas pessoas desinibidas em Londres não estão com calor, estão delirando. Pronto, Memel, tá explicado.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Conflitos diplomáticos

Uma das boas coisas de estudar no exterior é encontrar gente de todo o canto do mundo. Mas isso também cria uma obrigação meio chatinha de ter opinião formada sobre todos os países do globo.

Todo mundo tem alguma coisa para falar do Brasil ao conhecer a minha nacionalidade: "E o Lula?"; "Adoro o Ronaldinho" ."Acho que prefiro o Maradona ao Pelé". Você mora perto da cidade de Deus?" "O carnaval dura um mês inteiro?"

O problema é quando sou apresentada a alguém cuja localização do país é apenas vaga na minha memória. O que dizer para alguém que vem da Nova Caledônia? Níger? Ilhas da Reunião? Belize?Togo?

Mesmo quando eu sei onde fica o país, não tenho, necessariamente, mais nenhum comentário que não me faça passar por uma imbecil.

Há alguns que têm noção da pouca relevância mundial dos seus países e já vão falando: "No meu país é assim, assado". Mas tem gente que tem um certo sadismo de torturar o interlocutor.
No intervalo de uma conferência sobre pós-colonialismo na faculdade, vira um cara de Comores para mim e pergunta: "O que você sabe do meu país?". Assim, na lata. Parecia um daqueles programas de mau gosto de perguntas e respostas. E o pior que se cito que sou jornalista e/ou estudante de geopolítica aumenta a pressão social por frases definitivas sobre todo e qualquer país. Afe!

Felizmente recentemente a União Africana decidiu intervir nas Ilhas Comores para expulsar um ditador maluco que se autoproclamou soberano de uma parte da ilha. Não fosse isso, não teria absolutamente nada para dizer.

Diante de uma possível saia-justa, penso em recorrer a soluções alternativas:
a) apelar para frases vazias: "No gênero, nunca vi nada igual" (também serve para espetáculos em geral)
b) culpar a mídia pela falta de divulgação da vida no país x, y ...
c) repetir clichês: "Muitos mutilados em Angola, né?"
e) se for na balada, é mais fácil: "Ih, tá tocando a minha música"

Solução radical: o contra-clichê
A técnica consiste em gargalhar diante de qualquer frase. Ninguém vai achar que sou doida, vão simplesmente constatar a alegria do povo brasileiro "sempre alegre apesar das dificuldades".

Top Five: assuntos que necessitam de uma opinião formada. Sem um mínimo de conhecimento sobre esses assuntos, aqui na França não dá nem para conversar com o padeiro. Temas que animam qualquer rodinha de estudantes internacionais.
-Tibete e Dalai Lama
-Imigração clandestina
-Aquecimento global
-Queda do poder aquisitivo dos franceses
-"Lula ainda é de esquerda?"

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Confesso que dancei

Minha gente! Cheguei ao limite da degradação nacionalista na tentativa de proliferar os valores tupiniquins. Sambar ao som de La Bamba e Gipsy Kings tem perdão? Em minha defesa, a galera pediu. E eu, brasileira simpática, nao pude recusar. A Schnapps, diga-se, ajudou. Melissa





Eu nem tenho a desculpa do álcool. Dancei axé e funk voluntariamente diante de uma platéia de amigos internacionais e ainda ensinei grandes momentos coreográficos para uma amiga francesa que, agora, difunde o melhor da cultura brasileira em Pequim.
Joga a mão pra cima! Chão! Chão! Chão!

Cíntia

terça-feira, 1 de abril de 2008

Os de 20 atrás das de 30

Mocinhos de 20 e poucos estão se interessando por mocinhas de 30 e poucos. O 30 é o novo 20, mas nesse caso, o 20 não sabe que o 30 existe.

A gente explica. Invariavelmente os rapazes pensam que somos mais jovens. Um pouco mais velhas que eles, talvez, mas nunca depois dos 30. Ou seja, não se trata de um interesse juvenil por mulheres mais velhas, o que no imaginário das revistas e blogs femininos vem acompanhado de adjetivos como "experientes", "bem-resolvidas" e "que sabem o que quer"- não se enganem, a gente abomina essa relação míope de causa e efeito.

O fenômeno é internacional e precisa de estudo aprofundado. Amigas nossas têm até uma brincadeira pra isso. "Qual o seu piso?", e cada uma que confidencie a idade do rapaz mais jovem com que elas já, digamos, ficaram.

A complexidade feminina entra em cena também nessa área. Tem quem não ache nada demais, tem quem estabeleca um máximo de diferença como parâmetro aceitável e tem quem prefira rapazes mais velhos. Não é simples, mas é assim. Uma de nós não gosta da idéia de ficar com alguém que nasceu numa década depois da gente. Assim, até 1979 há alguma chance hipotética. A outra é mais flexível. Ah, também tem quem reveja os conceitos de vez em quando. Sim, temos direito a dias de metamorfose ambulante. Viva Raul.

Contam as mocinhas que essa interação com a juventude tem causado conflitos de experiência. Certo dia uma amiga nossa propôs um movimento menos óbvio na intimidade – ela jura que não era nada tão diferente assim – e ouviu um espantado "Isso aí eu nunca fiz isso antes". Descontado o charme do idioma estrangeiro, se o seu sonho de sedução não é ensinar nada a ninguém, o comentário pode atrapalhar, anh, a animação.

Outra amiga teve tempo para refazer mentalmente a lista de afazeres do dia seguinte enquanto o namoradinho sem muita experiência lutava para abrir o fecho de sua roupa íntima. "Por que você não ajudou o coitado?", perguntamos, sempre querendo dar uma forca pra galera. "Ele tem que aprender, ora", foi a resposta, antevendo a alegria da próxima mocinha com quem ele se deparasse. É por essas e outras que dizem que sempre entregamos para a próxima uma versão melhorada do homem que encontramos.

Para levantar o moral dos que estão começando na casa dos 20, registramos o relato de várias amigas com as boas surpresas que encontraram. Experiência nem sempre quer dizer qualidade e é por isso que existe uma lenda de que rapaz que chega aos 30 sem saber beijar não tem mais jeito. Há um caso, que achávamos raro, de perda de habilidade com o passar dos anos. Imperdoável. Atestado de incompetência em matéria de sedução.

(E antes que algum engraçadinho comente, a gente sabe que tem uma parcela que mente pra ver se "ganha" a mulherada. Mas esses são fáceis de identificar. Ou a gente se deixa enganar ; )


Bônus da Cíntia
: A importância das roupas "jovens"

Num raro dia de sol, saio de bermuda, tênis e baby look com estampa do Elvis. Sou abordada por um popular na que saía da escola. Isso aí, do segundo grau, aliás, ensino médio como se diz hoje em dia.

O ultrajovem começa com a conversinha. "Você estuda aqui por perto?" Eu explico que estudo na Paris 8. Ele faz uma cara de quase espanto e pergunta: "Quantos anos você tem?". Sem papas na língua, contei a minha verdade: "31". O menino, incrédulo: "Mentira, você está falando isso só para me dispensar". Sigo meu caminho sorridente.

Dois meses depois, com um vestido mais soltinho que eu julgava fashion-glamour anos 60, um jovem me chamou de senhora no metrô e me ofereceu um lugar para sentar. Hein?! Fiquei arrasada, mas sentei. O mocinho achou que eu era uma senhora de idade ou que estava grávida? Para reflexão.


Lição do dia
: Idade não é nada. Roupa é tudo. Mas atenção para não cair na caricatura de se fantasiar de jovem.


Melissa e Cíntia

sábado, 29 de março de 2008

Tamanho não é documento

Com vocês, a menor ambulância do mundo.

Acúmulo de funções: médico e motorista!

quinta-feira, 27 de março de 2008

Haja coração!

Orgulho de ser brasileiro

E eu achava que já tinha visto muito brasileiro em Londres.

Nada como um jogo da seleção no exterior pra mostrar como tem brasuca no mundo. Orgulho genuíno ou adquirido na porta do estádio em forma de camisa-bandeira-faixa-gorro. Brasil 1x0 na Suécia.

Conforme previsto há um mês aqui no blog:
1) fez o maior frio
2) o estádio Emirates é mesmo bonito
3) o Brasil jogou bem mais ou menos
4) dessa vez eu não tava olhando pro outro lado no único gol da partida

E Kaká não foi...

Quem não tem Kaká, caça com Diego e Pato


Eu sei que eu disse que não ia estar lá. Mas ganhei o ingresso. Sabe como é, saudades do Brasil. Não minha, mas de um amigo. Ele foi matar a saudade, eu fui pro jogo. Cada um tem o que merece.

O precinho nada camarada, 35 libras, deixou o estádio cheio, mas não lotado - éramos 60.021 pagantes, anunciaram no telão. A gente tá em Londres cheio de glamour, mas não com dinheiro sobrando.

Grande poder da camisa do Brasil no processo de integração social. Metrô, sozinha, espécime tupiniquim atordoado com seus cinco dias de Londres pede para ir comigo ao estádio. Simbora. Grande estréia da blusinha que minha irmã me deu, naturalmente em cima de outras duas blusas, que esse começo de primavera tá mais pra inverno.

Só tinha gente de verde e amarelo e cartazes "Me filma, Galvão", e meu grupo de torcedores foi cair no meio da torcida adversária. Ih, vai nos inibir, pensei. "%$£*", começa a gritar um colega. Em inglês. A explicação singela: "Se eles não entendem o xingamento, não tem graça". Eu sabia que ia aprender muita coisa nessa noite.

Quem é aquele ali mesmo?


Comprovado nosso caráter divertido e solidário com piadas infames de toda sorte e risadas achincalhadoras com situações vexatórias alheias. Me senti na pátria amada.

E destaque para o intervalo começando ao som de La Bamba. Sabe como é, os gringos queriam homenagear o Brasil.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Eu quero ter um milhão de amigos

Mudar de casa é um tormento. Após morar em 8 apartamentos em 3 países diferentes nos últimos 7 anos, achei que estava pronta para tudo. Mais ou menos. Mudar de casa em Paris é uma operação que exige grande logística e cara-de-pau.


Capítulo 1: Preparar a mudança

O primeiro instinto é chamar uma empresa especializada, mas o preço é abusivo. Esqueça o instinto. O orçamento deve ficar em torno de dois meses de aluguel, bem além do bolso de estudantes em geral. A opção escolhidas pelos franceses -mesmo os que não são mais estudantes- é alugar uma caminhonete, chamar os amigos e fazer a mudança na raça. Para mim, é a versão francesa de chamar os amigos, fazer um churrasco e armar a laje. Eu, como não tenho móveis, apelei para uma boa alma de braços fortes disposta a descer 5 lances de escada sem elevador e subir outros 3 andares sem elevador carregando malas e caixas de livros.



Capítulo 2: Os móveis

Desde a minha chegada em Paris, fiquei num studio mobiliado com um gosto peculiar. Cortinas de paetês, luminária prateada, foto do Mikahil Barishinikov no banheiro... (os proprietários do meu apartamento são um casal gay franco-russo). Agora chegou a hora de ter os próprios móveis. Rumo para a grande rede de móveis de origem escandinava. Os preços competitivos, estilo adequado.

Pequeno detalhe: não entregam. Não montam.
-vendedor: a senhora tem experiência em montar armários?
eu: eu?! não!
vendedor: ah, então é melhor chamar um amigo...
eu: vocês não montam?
vendedor: não
eu: nem pagando?
vendedor: não temos esse serviço, mas o nosso manual é fácil. A senhora também pode alugar uma caminhonete aqui mesmo.
eu: vocês nem entregam?
vendedor: sim, a entrega pode ser de graça, mas não subimos escada. Deixamos na portaria.
eu: ah, já sei, tenho que chamar os amigos para levar...

Resumo: Sem amigos, não dá para comprar e montar armários, arrumar um fiador, transportar mudança, consertar coisas e instalar equipamentos. Aprendi que, mais importante que o jeitinho brasileiro, é ter o jeitinho francês.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Pagando bem... que mal tem?

Trabalhar de babá? Cochilar na aula de manhã porque ficou até de madrugada trabalhando no pub?

Que nada. Em tempos de megaconcorrência, estudante internacional sofre até para arrumar subemprego. O jeito é ser criativo e/ou apelar para soluções alternativas. Vejam as presepadas na linha "coisas que já vimos estudantes fazerem pra economizar ou ganhar dindin":

- ser figurante profissional de programas de auditório

- participar como cobaia de pesquisa de acupuntura

- modelo de maquiagens étnicas

- modelo de escola de cabeleireiro (ih, essa vocês já sabem)

- ir pra universidade andando - mesmo que demore uma hora pra chegar

- pegar coisas doadas por estudantes que voltaram pros seus países e revender no eBay

- entregador de abóboras no Halloween (foi assim que ele descobriu que abóbora grande tem espinho no caule)

- trabalhar vestido de bebida energética, dançando na porta das baladas

- doar esperma a cada 15 dias (por £ 40 a doação!)

- passar-se de rico e comprar produtos Luis Vuitton para virar muamba no Japão


Emprego campeão

O melhor de todos (ou pior, para o dito-cujo em questão) foi um emprego pra conseguir comprar dentes de ouro que sobravam em consultórios odontológicos. O coitado tinha tanta vergonha de ligar pros dentistas que inventava uma identidade falsa. Ou misturava os nomes dos amigos, tipo "Cíntia de Andrade".

- Vocês têm materiais preciosos (eufemismo para ouro) para vender?

Melissa e Cíntia

quinta-feira, 13 de março de 2008

As neopupilas encontram o mestre

Fomos ao cabeleireiro para ganhar um look europeu moderno e descolado, mas logo descobrimos que o Balzac já usava o mesmo corte no século 19. Coincidência?




Melissa e Cíntia



PS. Melissa ia comentar sobre seu novíssimo corte, ainda mais curto e mais ousado, mas depois que perguntaram se ela tinha virado emo ela nao quis mais.

segunda-feira, 10 de março de 2008

O gringo é bom

Férias no Brasil, alguns euros para gastar. Numa banquinha de artesanato no centro do Rio, contemplo coisinhas que poderia levar de presente, um pequeno mimo, sei lá.

O vendedor-ambulante-gaiato começa a puxar assunto. Acabei revelando que morava na França.

-vendedor gaiato: é casada?
-eu: não.
-vendedor gaiato: por quê?
-eu: sem motivo especial, tô estudando, sei lá.
-vendedor gaiato: é melhor casar com gringo que com brasileiro, né? Brasileiro é tudo safado. Eu sou brasileiro. Eu sei. Você (olha a intimidade do sujeito) tem quantos anos?
-eu: 31 (por que eu dou trela para populares? Boa pergunta, mas a minha curiosidade mórbida me impede de interromper essas conversas. eu sempre fico querendo saber até onde a presepada pode ir)
-vendedor gaiato: ah, então aceita o meu conselho. é melhor casar com gringo mesmo. O gringo é melhor pra brasileira. Os caras daqui não vão dar conta de você não, assim estudada e com 30. (piscadela cúmplice)

Resumo: Ganhei um conselho que não pedi, não comprei o artesanato, mas arrumei um post.

sexta-feira, 7 de março de 2008

30 é o novo 3

Passando uma curtíssima temporada no Brasil, resolvo reunir todos os meus amigos e amigas em São Paulo (todos nessa faixa etária cinzenta dos 27 aos 30 e poucos) em um único grande evento. Assim, pensei: poupo tempo e agilizo as baladas, já que a minha passagem por São Paulo é para fazer pesquisas para a minha tese. Chego toda animada, cheia de novidades de Paris e qual é a minha surpesa? O grande grupo de amigos e afins se dissolveu de forma nada amigável. Recebo todas as informações via janelinhas individuais de msns e e-mails. Haja coordenação!

Uma amiga, mais diplomática, diz: "Não temos saído mais tanto juntos. Ando sem pique".

Outra, do mesmo ex-grupo, é mais explícita: "Eu e fulana não nos falamos mais. A fulana também não fala mais com o beltrano. Ah, e eu também não tenho quase falado mais com ele."
Uma terceira: "É melhor não reunir todos nós numa única mesa. Corre o risco de acabar virando um programa do Ratinho".
Uma quarta é taxativa: "Se ela for na boate, eu não vou. "

Eu, estupefata, pergunto: "Como assim vocês não podem ficar juntos nem em um ambiente com 300 outras pessoas?" Não há resposta.

-A terceira responde: "Ah, sei lá, o maior clima pesado."
-Eu: "Vcs estão de mal? É isso?"
-A terceira: Ah, é a vida, coisas da vida, opiniões.
-Eu: Ué, mas há anos sempre houve briguinhas bestas, mas nunca houve esse gelo total. Assume: vcs estão de mal? É isso, todos com 30 ou quase lá e resolveram ficar de mal. Não acredito! Vocês cortaram o dedinho também para simbolizar o gesto? Quando vocês vão ficar de bem?

A terceira: Ai, Cíntia. Tá bom, é isso. Estamos de mal.

Um quinta pessoa no ex-grupo resolveu contextualizar: "Na verdade, desde 2004 que não nos damos tão bem, agora que estou com 30, resolvi escolher melhor as minhas amizades".


bônus: Para não ter que bancar a Silvia Poppovic numa mesa-redonda de baixarias, fui obrigada a organizar mini eventos com uma lista previamente definida e com a pergunta constrangedoda: "Você ainda fala com tal pessoa?".


Mais uma revelação bombástica: 30 é o novo 3.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quem quer casar comigo?

Mulherada, hoje pode. Armem-se de coragem e ataquem os rapazes que fazem a festa no coração de vocês.

Disse a Rainha Margaret nos idos de 1288 na Escócia que no dia 29 de fevereiro a mulher podia driblar a tradição e propor seu amado em casamento. O melhor? Ele não pode dizer não!

Meus amiguinhos desligaram os celulares e estão fugindo das namoradas e pretendentes como nunca. Difícil missão para uma sexta-feira. Vai que alguma leva a tradição a sério e pop the question mesmo?

Conheço poucos pedidos de casamento de surpresa, pouquíssimo com a iniciativa de mulheres, principalmente nessa era em que as pessoas “vão casando” aos poucos, na definição de uma ex-professora de alemão. Na ficção, nos emocionamos com Monica pedindo Chandler em casamento no apê repleto de velas (Friends) e mais recentemente rimos com a Susan se antecipando ao pedido de Mike (Desperate Housewifes).

Os jornais britânicos, naturalmente, descobriram as corajosas da vida real e ainda deram um monte de idéia para quem pretende garantir um marido. O melhor conselho de todos: proponha no escuro, quando vocês forem dormir. Cem por cento de segurança de evitar a cara de horror que tem 95% de chance de ele fazer. Rá.

O costume britânico não tem perigo de ganhar minha adesão. Tá certo que o 30 é o novo 20, mas não sou tão modernosa assim. Além do quê, já tenho pedido de casamento pendente. :D

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Terremoto? Onde? Onde?

Sobrevivi ao terremoto.

Droga. Nem dizer isso eu posso. Para decepção geral da nação, eu não senti nem cosquinha. Dormindo estava, uma hora da madruga que era, dormindo continuei. Teve gente aqui na residência universitária que disse que chegou até a acordar. Vamos fingir que a gente acredita.

Tô há quase seis meses nessa terra e não tenho uma história pra contar de terremoto, atentado, morte de princesa, assassinato de brasileiros inocentes no metrô, essas coisas de civilização que o nosso país tropical não tem. Nadica de nada. Aí me vem o maior tremor de terra em 25 anos, vejam só, e eu sã e salva? Muito sem graça isso.

Ah, por sinal, muito obrigada pela preocupação, viu! Ninguém me ligou/escreveu/postou comentário pra saber se eu tava bem (alô, drama). A mãe de uma chinesa colega minha ligou pra ela às 4 da manhã, porque já era meio-dia em Pequim quando as notícias começaram a surgir na tevê. Ela, como eu, nem sabia do que se tratava.

Minha amiga do Alasca diz que tremor mesmo é o que ela tem lá na terra dela. São tantos que ninguém nem interrompe telefonema – “Peraí, deixa acabar o terremoto. Pronto, fala”.

Aí descobri que estou totalmente despreparada para lidar com a acomodação das placas tectônicas. Tem toda uma técnica – de colocar as mãos na nuca, passando por ficar embaixo da mesa até se proteger numa banheira! Muito a aprender nessa vida!

Quem disse que eu ia voltar de Londres só com um diploma de nerd?


P.S.
Não, não esqueci que o Brasil tem tido tremores de terra – Caruaru há quase dois anos, Minas, Amazonas, etc desde então, Ceará há somente uns 10 dias –, mas vamos combinar que essa informação depõe contra o meu pedido expresso de dengo, né!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Meu patriotismo tem preço: 35 libras

Salvem-me, por favor. Estou sendo execrada por parte significativa da comunidade brasileira em Londres porque não pretendo assistir ao jogo Brasil x Suécia daqui a um mês, 26 de março. Praticamente a versão tupiniquim da revolta kosovar. Salve, salve, Pátria amada, Brasil.

Eu sei que “é a seleção”. Eu sei que “é uma oportunidade única de ver um jogo do Brasil enquanto a gente tá morando aqui”. Eu sei que “o estádio Emirates é o máximo”. Mas trinta e cinco libras pra passar frio vendo o Brasil jogar um amistoso?? Com a Suécia? Se ainda fosse com a Argentina (pela rivalidade), a Itália (pela, anh, simpatia dos jogadores) ou pela Inglaterra (já que tô morando aqui)!

Façam as contas. Eu costumo multiplicar por quatro, lá iriam 140 reais. Tá bom, vamos ser mais precisos, £ 1 = R$ 3,35. Cento e vinte reais por um joguinho furreca*??

[Já estou ouvindo os torcedores virtuais revoltando-se diante da minha heresia. Em minha defesa, detalhe que conta muitíssimo: eu nem de futebol gosto! Da última vez que fui a um estádio pra ver Sport – “Sport, Sport, Spoooort!” – e Santa eu fiquei entediada e perdi o único gol da partida, na metade do segundo tempo. Eu tava olhando pro outro lado.]

Mesmo se a gente considerar que são “35 dinheirinhos”, como a Cíntia me ensinou a fazer, você sabe o que se faz em Londres com esse dinheiro?

- Você vai prum show que você gosta muito (Rihanna por £35 semana que vem; Velvet Revolver por £ 34,50 no fim do mês; Avril Lavigne por £ 39,50 e Bon Jovi por £ 40 em junho; Jack Johnson por £ 40 em julho, The Chemical Brothers por £ 30 em agosto)
- Você consegue ingresso barato pra dois musicais ou então vai pra um só, mas sentando num lugar bom
- Você vai a três exibições de grande porte
- Você faz farra de sexta a domingo bebendo cerveja em pints num pub
- Você tem três refeições de qualidade (se for no tailandês delicioso aqui do lado, você almoça uma semana in-tei-ra, sete dias de felicidade)
- Você vai ver o Kevin Spacey no teatro – que é o que eu vou fazer!

Um dos poucos brasucas a dividir comigo esse momento pirangagem** no exterior foi um amiguinho que sim, gosta de futebol, mas usou o dinheiro pro show de uma banda indie que só vai tocar em maio.

Ué, achou longe? Aqui é assim, se você quer guardar o seu lugar. Tenho garantido o meu em atrações culturais de minha preferência com um mês e meio de antecedência, e isso não é muito. Os shows grandes mesmo se acabam em horas e podem ser vendidos com seis meses antes do grande dia. Ou mais.

Então tá combinado. Eles acenam pro Kaká e eu mando lembranças pro Kevin Spacey (sim, porque minha amiguinha americana faz questão de ir pra stage door, a portinha de onde os atores saem depois do show. Se render, eu conto aqui).

Se toda a minha argumentação não me redimiu, última bandeira de paz: não considerem minha deserção um ato antipatriótico. Pensem só que sou uma estudante sem recursos querendo adiar o plano B de financiamento internacional. Contei não? Se tudo der errado e ficar difícil bancar as atividades culturais, o plano é dançar no metrô. Eu vou de forró, Cíntia vai de samba. Cada uma no seu próprio nicho de mercado. A Europa não perde por esperar.

Bonus-referência
Pra vocês verem como a perspectiva faz toda a diferença. Eu aqui fazendo uma ode em prol do meu curto orçamento estudantil, e uma mocinha manda email pra lista da estudantada brasuca em Londres feliz da vida por “garantir” seu ingresso de preço “inacreditável”. “Ver o Brasil por 30 libras é o máximo”, regozija-se, dizendo que um Arsenal x Chelsea fica pelo menos por 200 libras. Fidel é que está certo em se aposentar antes que o capitalismo domine o mundo.

* paia, chinfrim, meia-boca
** ser mão-de-vaca, mão fechada, muquirana

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Farra no flat dos outros é refresco

Tá bom, eu vou contar.

Residência estudantil é uma pouca vergonha mesmo, um entra-e-sai de gente que só quer aproveitar a vida, vários rapazes diferentes nos quartos das meninas, várias meninas diferentes no quarto dos rapazes, portas destrancadas, barulhos estranhos, festa todo dia, bebedeira inconseqüente, estudo que é bom, nada.

Pronto, falei.

Felizmente minhas flatmates são tranqüilas. Tenho silêncio para estudar a qualquer hora do dia ou da noite.

Quando quero farra... vou pro flat dos outros. : )

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Em prol do anti-Dia dos Namorados

A quem interessar possa, hoje é Valentine’s Day. Por um dia a juventude deixa de se dividir entre os que têm 30 e os que ainda estão na casa dos 20. Hoje a solidariedade é o lema. Não importa a idade, somos os que têm ou os que não têm alguém para encontrar logo mais à noite.

O bloco democrático dos desacompanhados inclui os solteiros de fato e os de circunstância. Ou seja, aqueles para quem o amor existe, mas não pode ser concretizado hoje por motivo de força maior – o(a) amado(a) não está na cidade ou ele/ela deixou o(a) amado(a) para vir estudar/trabalhar em Londres, por exemplo.

Tentei me blindar com o pensamento positivo de que Dia dos Namorados é mesmo em junho, e este 14 de Fevereiro não tem importância, mas pela reação dos meus amiguinhos não fui muito convincente. A comunidade internacional não tarda em consolar os corações partidos.

Ninguém fica imune à sensação de que é o ultimo ser sem alguém pra chamar de seu. Passado o Natal, começaram as propagandas maciças e a decoração extravagante nas vitrines. E as centenas de rosas em todos os lugares da cidade não transmitem mensagem alguma de amor, mas gritam às solteiras que, sorry, este ano não tem flor pra você, darling. (Sempre resta a esperança, porém, de um admirador secreto tardio. Alô, ilusão!)

O mais divertido não é o que oferecem as festas para os enamorados, que estes estão com a vida ganha mesmo e vão se aborrecer em filas nos restaurantes com serviço a desejar (assim esperam os solteiros). A irreverência está nas celebrações anti-Valentine’s.

Catarse anti-romance
Aqui perto de onde moro tem a festa dos Discos do(a) Ex-namorado(a). É pra levar – e quebrar – os álbuns preferidos daquele que já mereceu todo o seu amor e carinho. Uma homenagem àquele namorado que se orgulhava da comunidade no Orkut "Quer romance? Leia um livro". Dress code: camisas do tipo “Eu nunca te amei mesmo”.

“Mó deprê” e “Abaixo o namoro” são duas festas que prometem, se vocês me permitem fazer tradução livre. No hit parade, todas as piores e melhores canções de dor de cotovelo e de ódio pós-romance. Tem uma boate que vai promover concurso dos piores poemas de amor. Haja amargura no coração.

A verdade é que cupido não escolhe lugar: eu já fui prum show de comédia num 12 de Junho e saí com um namorado.

Pra quem ainda acredita que o amor é lindo, ou que acha que uma pegação vai salvar o dia, bar brasileiro vai fazer a festa do sinal, aquela em que você veste vermelho, amarelo ou verde a depender do seu grau de aceitação da abordagem alheia. Outro vai fazer a festa do cadeado, aquele em que são distribuídos cadeados e chaves e a graça, pra quem acha, é descobrir quem é o seu par.

Na dúvida, uma colega minha desenvolveu uma estratégia esquisita. Acreditando piamente que rapazes se interessam mais por mocinhas comprometidas, rejeitou o convite de amigos para uma festinha caseira e não vai sair de casa hoje à noite. Nem vai entrar na internet. Tudo pra os pretendentes pensarem que ela está num date. Acha que assim garante o próximo Valentine’s Day. Eu disse que, nesse nível de (im)probabilidade, rezar pra Santo Antonio dava mais futuro. “Santo quem?”


Enquete
Amiga do blog recebeu convite de última hora e pergunta: um date no Valentine’s Day é um pedido de namoro? Se sim, e o mocinho iraniano em questão levar o assunto à tona justamente no encontro de hoje, pega mal dizer ‘não’?

Quem não tem cão caça com gato. Persa.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O mistério do presente persa

Eu ainda vou receber uma condecoração da ONU por manter a paz mundial.

Jantar pretensamente polonês. Pálidas coxinhas de galinha mergulhadas numa água turva com generosa superfície de óleo, acompanhadas de uma massa que quando crescer e fizer vestibular pode perder no ponto de corte para purê.

- Humm, que diferente!

Sobremesa japonesa. Retângulos cuidadosamente embalados, recheados com três massinhas gelatinosas, às quais se acrescenta o conteúdo de um potinho pequenininho de mel antes de degustar com uma colherzinha de madeira. Lindo e apetitoso, até entrar na boca. Doce de arroz com não-sei-o-quê japonês. Doce de eca.

- Humm, que diferente!

Noite vietnamita. Nativa reúne coleguinhas do mestrado pra mostrar a típica culinária nacional. A entrada era supostamente imperdível. Muito tradicional, toma-se a qualquer hora do dia ou da noite, eu já antevia sair de casa feliz para saborear sozinha o quitute nas noites frias londrinas pelo precinho módico de £ 3. Chega uma sopa rala com um fiapo de galinha em Hanói e outro em Saigon (tá bom, Hon Chi Minh). Me contive pra não dizer “a de lá de casa é melhor” e larguei o meu:

- Humm, que diferente!

A quem ouvir o comentário, um alerta. Não insista. “Ah, mas você gostou?” leva o interlocutor a 1) mentir; ou 2) dizer a verdade. E eu não gosto de mentir. Pelo bem da nossa amizade, aceite o “diferente” como uma prova de consideração. E vamos em frente.


Bônus diferente
Tive de usar o “diferente” pra descrever minha reação ao presente de um amigo iraniano. Mas eu não sei pra que serve o danado do negócio. Sugestões?



Posso dizer que tenho um tapete persa?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Segunda é a nova sexta

Este blog não precisa provar nada pra ninguém, afinal a gente sabe que o trinta é mesmo o novo vinte, mas vejam como a reedição de conceitos é uma tendência mundial.


Emprego fácil de encontrar, e você achará ótima
a chegada da segunda-feira, diz campanha massiva
de empresa de recrutamento em Londres.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

mini post de carnaval fora de época

Aos 20 anos:

Acredita-se que basta encontrar um grande amor para que tudo dê certo.

Aos 30 anos:

Já deu para aprender que só o amor não basta. Para um relacionamento dar certo, é preciso um trabalho considerável: tomar decisões, ser claro, fazer concessões, acaitar fazer compromissos... E tudo isso sem garantia de final feliz.

No momento 30 é o novo 20:
Sabemos de tudo isso, não tem como não sentir uma pontinha de tristeza, mas não é por isso que não vamos aproveitar "janelas de oportunidade" para beijar anônimos em uma festa de caráter popular .

-Mocinho sub-20: Caraca! 30 anos! Tudo isso! Pô, não tô de chamando de velha não, é que você não parece ter 30. Mas é legal, ser assim mais, sei lá, ...cabeça.

-Moça de 30!: Ah é, sou praticamente o Dalai Lama.

[sub-20 saradinho faz cara de que não entende a piada]

-Mocinho saradinho sub-20: Mas não rola assim uma pressão? Você não quer casar? Ter filhos?

Moça de 30!: Não nesta noite.

[sub-20 saradinho faz cara intrigada]

-Moça de 30!:Olha só, vamos beijar logo que a cada minuto eu vou ficando mais velha e mais "cabeça" e vou acabar desistindo de ficar com você.


bônus Carnaval: Um amigo francês me escreve no msn." Um amigo me contou que todo mundo se beija aí no Carnaval. Beija até desconhecido. E você, já beijou quantos? Quando é que você difundir essa' cultura' aqui em Paris. hehe!"


Definitivamente acho que é inútil lutar contra os estereótipos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mulher pelada procura

Eu desisto de querer mostrar que o Brasil é mais do que Carnaval e mulher sambando seminua. A comunidade internacional quer isso mesmo.


Evidência 1
Me empenhava no meu discurso multiculturalismo, diversidade racial, plurietnia, mas meus amiguinhos só ficaram satisfeitos quando achei as fotos que eles queriam. A simplicidade dos fatos (para mim, cruel) veio com o comentário diante de mulatas e branquelas rebolativas com pouquíssima roupa:

- Ah, é por isso que a gente ama o Brasil!


Evidência 2
Eu começava uma explanação empolgada sobre a multiplicidade da manifestação popular, a convivência de diferentes influências, grande caldeirão musical, blablablá, pontuando a singularidade da festa do Recife, bem menos conhecida internacionalmente que a exuberância carioca, e estava para começar a citar os outros carnavais famosos do país quando fui bruscamente interrompida:

- Não me interessa o lugar. Só quero ver mulheres nuas dançando.


Evidência 3
Gringo conta grande viagem que fez ao Brasil, coincidindo com a época de Carnaval, quando pôde ver diversas facetas da nossa festa, coisa e tal. Tomou o que viu como síntese de brasilidade e desde então espalha por aí que:
1) No Brasil, é normal as mulheres dançarem nuas ou seminuas;
2) No Carnaval, é socialmente aceitável vestir saias curtas sem usar nada por baixo;
3) Uma das fantasias mais em voga é “vestir” apenas tinta pra cobrir o corpo.


É uma luta perdida. Contra o imaginário coletivo, até a minha autenticidade foi colocada à prova.

A saber.

Festa carnavalesca em Londres, brasucas e gringos disputando espaço no salão, entra um grupo de maracatu. Começo a dançar o que anos de pernambucanidade me permitem exibir. Vexame fragoroso. Olhares de reprovação e desprezo. Os gringos acharam que era samba! E sambavam com toda a desenvoltura que Deus não lhes deu!

Na Quarta de Cinzas, a resignação é o que me resta.


Bônus de Carnaval
A inconveniência típica dos dias de folia não precisa de ambiente tropical para se manifestar. Na falta de dotes físicos ou intelectuais, o trunfo derradeiro do brasileiro desesperado para faturar uma mocinha: “É Carnaval, gatinha, tem que beijar”. Eu, hein!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Será que Sansão tinha razão?

E eu que acalentava há séculos o sonho do cabelo curto, resolvi tomar coragem e partir pra empreitada. Se não em Londres, onde ninguém liga pra como você aparenta, onde? Se não agora, quando?

Então resolvi fazer isso da maneira mais típica possível - servindo de hair model. Sim, cortar o cabelo a custo baixo (no meu caso, a custo zero, porque eu tinha um voucher) em uma escola de cabeleireiros. Fui no renomado Tony&Guy.

Achava eu que ia chegar lá, ia ser chamada pelo nome, ia cortar o cabelo e ia embora. Engano dos brabos. Fila enooorme de gente pirangando pra cortar o cabelo. Primeiro, lê as instruções e assina um papel, ciente que a coisa pode dar (muito) errado. Depois vai pruma espécie de triagem, e fiquei felizinha de ir pra "big room", que não sei por que me pareceu melhor do que a "small room".

Minutos infindáveis até que surgissem os professores (cabeleireiros moderninhos, a minha tinha cabelo pink-desespero e bolero de oncinha) e os alunos (um monte de japoneses esquisitééérrimos). Medo. Muito medo.

Claaaro que o meu japa tinha q ser o mais esquisito. Cabelo laranja, sobrancelha rosa, inglês inexistente, 18 anos, 1º corte de cabelo da vida. Hein? Sim, bateu um medinho, mas o cabelo cresce, o que pode dartão errado?

Não parecia tão simples pra brasileira q tava no meu lado (ai, como tem brasileiro no mundo!), que ficou com cara de desesperada durante 2h50 e só foi relaxar nos 10 minutos finais. Eu achei graça de tudo, menos de perder meu tempo precioso em Londres por causa de pouco dinheiro. Primeira e última vez, porque tava quase eu mesma pegando a tesoura pra mostrar ao meu japa como é q se fazia para pelar meu cabelo pela metade.

Ah, um fofo ele. Dai-Xin, com quem desenvolvi uma conversa do tipo Mim, Tarzan, Você, Jane. Pegava no meu cabelo com tanto cuidado que dava pena. Cortou com tanta atenção que eu já não agüentava esperar. Mas fez shiatsu enquanto eu perdia a paciência, escreveu numa maquininha tradutora que sentia muito de me fazer esperar e me deu ao final um livrinho japonês de histórias em quadrinhos. Mas nada muda o fato de que tinha 18 anos e era o primeiro corte da sua vida. Quem me salvou foi a professora, Efi, menos pelo fato de que ela ficava dizendo que tava lindo meu cabelo armado como se fosse a Simone/Elba Ramalho/Gal Costa. "Tá super na moda", ela me dizia. Ou seja, não ficou bom, e saí glamourosa pela Orford Street tentando desarmar o circo na minha cabeca. Rindo muito, sozinha.

Dias depois... A redenção parisiense no Armand e sua tesoura mágica (leiam no post abaixo).

Na universidade, minha chegada triunfal atrapalhou a aula com direito a um sonoro “ooooh”. Meu amiguinho russo tomou susto tão grande que apontou pro meu cabelo e deixou cair o queixo. Delicado que só ele, emendou depois: “Quem fez ‘isso’ com você?”. Valeu a força.

PS. Aceitam-se palavras de conforto.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cabeleireiro auto-ajuda

Eu tentei me adaptar ao meu orçamento de estudante-bolsista.

Primeira providência: limitar a freqüência de escovas com profissionais. O estilo «faça-você-mesmo» durou pouco tempo. Meu cabelo foi ficando ressecado sem contar as crises de resfriado por sair com o cabelo úmido no frio. Na segunda etapa, decici procurar cabeleireiros a preços populares. Mas a receptividade das africanas e coreanas, as mais baratas da categoria, foi fria: «A gente não faz escova aqui não. Só fazemos trancinha ou megahair», apontando para uma vitrine com apliques de nylon. Foi a minha vez de responder: «Não trabalho com materiais sintéticos».

Sem grana para ir a um cabeleireiro na rua do Faubourg St. Honoré (o mais chique dos chiques) e sem ser acolhida pelos cabeleireiros do povão, comecei a vagar pela busca do cabeleireiro «glamour intermediário». E encontrei: «Armand, o especialista do cabelo cacheado, ondulado, crespo e frisado», diz a placa. Eureca! Na esquina da minha casa. Num salão decorado por tapetes de zebra, Armand, o responsável pelo 'relooking' das autoras, recebe as suas clientes com chás, café e revistas de fofoca. Até aí, tudo normal. Mas o exotismo de Armand fica por conta de suas pérolas de sabedoria entre uma escovada e outra.

Pérolas de Armand

Dicas de beleza específicas para mim e para a Melissa:
«Vocês têm uma beleza natural, mas não podem sair de casa com essa cara lavada»
«Esse corte novo só vai ficar bom com um pouco de maquiagem»
«Depois de escovar o cabelo, sacode e joga pra trás»
«Uma palavra para você e para a sua amiga: corretivo de olheiras».

Relacionamentos:
«Se depois de um ano, o moço não te apresentou para a família nem fala em casar ou morar junto ih... ele não quer nada sério».
«Antes de casar, observe bem o pai do pretendente.»
«Com esse decote aí e de escova, não precisa nem se esforçar para conversar muito.»

Dinheiro:
«Viagens e imóveis são os melhores investimentos.»

Pérola-mor pré-date: «Pode deixar ele passar a mão em tudo, menos na minha escova, hein.»

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Saudade da vida moderna

Se não fosse a falta que sentimos das pessoas, a gente viveria na Europa pra sempre. Apreciamos pequenos prazeres como andar na rua sem o risco de ser assaltada e valorização profissional, essas bobagens que a gente não liga quanto está no Brasil.

Felizmente MSN e Skype tão aí pra ajudar a matar a saudade dos nossos amigos e parentes (uma de nós fala mais com os pais aqui do que quando morava em terras tupiniquins).

Daí porque, sem usufruir da tecnologia, as pessoas que mais sentimos falta na Europa são:
- a manicure
- o cabeleireiro
- a depiladora
- o terapeuta
- a faxineira
- a lavadeira

E não necessariamente nessa ordem!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Não nasci pra groupie

Ser jovem é padecer... na fila! Na Inglaterra é assim.

O que acontece quando uma banda de rock anuncia no site que vai fazer um show surpresa de graça numa lojinha de disco naquela mesma noite?

- Você pensa “Ai, que legal, vou lá conferir”.

O que acontece quando essa banda é o Radiohead e a cidade é Londres?

- Você e a torcida do Flamengo pensam “Ai, que legal, vou lá conferir”. Ou melhor, eu penso “Ai, que legal, é aqui perto de casa mesmo” e a torcida do Flamengo (britanizando, do Manchester United) pensa “Não posso perder essa, mate”.

Resultado: uma fila enooorme o dia inteiro. Não é força de expressão. O dia in-tei-ro. Teve gente que passou 12 horas na fila. Eu só passaria 12 horas na fila por... por... Nem sei por quem!(queremos saber: quem merece que você passe 12 horas numa fila? Comentários abaixo, por favor.)

Amiga diz que passaria pelo U2; amigo diz que Oasis vale o sacrifício. Eu só consigo pensar em nomes como Michael Jackson (que está negociando pra vir pra cá em setembro ou outubro, eba!) ou Madonna (já estamos economizando para o show de 50 anos da diva no Central Park, em agosto. Cintia diz que o 50 da Madonna é o novo 30!)

Eu nem gosto dos caras, mas depois que um amigo pernambucano me intimou a ir prum show do Radiohead de qualquer jeito durante minha temporada britânica (24 e 25 de junho, Victoria Park), achei que valia passar pela Brick Lane (sim, a do Jack, o Estripador) e tentar entrar.

Relou, eu tava pensando em quê? É o Radiohead, não é a bandinha da esquina. Aliás, não tinha lugar nem pra bandinha da esquina! Os músicos da bandinha que toca no pub da esquina estavam na fila. E não conseguiram entrar!!!

Claro que só tinha marmanjo esperando. No frio? Na chuva? Por 12 horas seguidas? Nananina, não dá pra mim. Vou ter que arranjar outro jeito de provar que sou jovem.

Para quem se interessou – nem o Radiohead achava que ia dar tanta gente; tiveram de trocar o plano lojinha de discos + telões pelo bar do fim da rua. Teve quem adorou, teve quem achou que eles tocaram muito o disco novo e pouco dos sucessos. Reclamar, ao lado de falar do tempo, é mania nacional.

É como disse um jornalista – se fila fosse esporte olímpico, a Inglaterra ganhava medalha de ouro. Os jornais mostraram como o dia tinha sido tranqüilo na fila de 1.500 pessoas, com amigos recém-feitos se organizando para necessidades básicas. Eu desisti antes de começar. A necessidade faz o fã.

sábado, 19 de janeiro de 2008

O limite da juventude

Sexta-feira à noite. Surge um convite: festa de uma gravadora independente de rock. O local: uma espécie de galpão antigo às margens do canal Saint Martin. O público: jovens parisienses "branchés" (descolados, em francês). Aceitei o desafio.
No lugar, paredes pretas e tudo muito escuro. A média de idade de 24 anos com picos de 60 anos(roqueiros das antigas em busca de um novo som).
Começa o primeiro show. Uma menina deveria ter uns 18 anos, tocava o seu tecladinho retrô e cantava de forma meio desafinada para os meus ouvidos (ai, esses jovens...). O público, porém, aplaudiu com entusiasmo.
Segundo show. Aí começou um verdadeiro martírio. O que dizer? A minha impressão era que o líder do grupo havia ganhado um teclado Yamaha na véspera e resolveu apertar todos os botões e teclas do teclado de uma vez só. Cada música durava pelo menos uns 15 minutos para delírio da platéia e meu desespero. "É uma coisa experimental", me explicaram. "É conceitual", disse outro. Na minha cabeça, eu pensava como um velho :"isso aí, meu filho, não é música".
No palco todo preto, o grupo todo de preto tocava no escuro em meio à muita fumaça.
Diaólogo surreal.

eu: nossa, quanto tempo esse pessoal vai passar afinando os instrumentos?
interlocutor: ih, cíntia, essa já é a música. o show já começou.

A música em questão era uma longa seqüência de vogais com guitarras e bateria e uns gemidos. Tudo muuuito alto. Perdi 10% da minha audição com certeza. Resolvo dar uma volta. Fui ao banheiro. Na fila gigantesca, um gaiato jovem puxa papo.
gaiato jovem: impressionante essa banda, né?
eu: diferente...
gaiato jovem: vc não sente a influência de %&*$.
eu: quem? não conheço.
gaiato jovem: %&*$. Eles estão trabalhando muito na cena underground aqui em Paris e em Londres.
eu: ah, tá.
gaiato jovem: vc escuta o quê?
eu: os clássicos, David Bowie...
gaiato jovem: e assim mais atual?
eu: ah, sei lá, Franz Ferdinand. (crente que estava abafando)
gaiato jovem: ah, mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30.
(oops!, pensei eu).

Assumindo mentalmente a minha idade, fui procurar uma cadeira pra me sentar porque até chegar a hora do último concerto da noite, justamente o do meu amigo, ia ter que esperar muito e engolir muita fumaça de gelo seco.
Peguei minha coca sem gelo (ai, minha garganta) e fui sentar num cantinho numa cadeira de plástico. Foi isso. Minha juventude descolada durou duras horas.

Definitivamente, não basta colocar um all star para ser jovem.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quem converte não se diverte

Carinha com ar debochado-malicioso vê as amigas no metrô...


...e manda:

- Vocês são gêmeas?

Brasileiras, sempre sorridentes, até com quem merece um belo fora, respondem:

- Não, foi liquidação mesmo!

Amiga que é amiga faz compra junto. E compra o mesmo produto. Nessa filosofia, eu e Cíntia temos botas iguais, sapatilhas similares e, nossa mais recente aquisição, casacos pesados de frio semelhantes. Mesma cor. Mesmo tamanho. Mas o mocinho do metrô se enganou. Não são idênticos. O meu veio com um adesivo do Incrível Hulk no punho esquerdo, tá.

A gente sempre gostou de promoção. Mais roupinhas por menos dinheiro, se não fosse a chatice de lutar pelas melhores peças... Mas promoção ganha um novo significado quando se é estudante no exterior. Questão de sobrevivência. A gente quer se convencer que está pagando em “dinheirinhos”, feito no Banco Imobiliário. Sabe como é, quem converte não se diverte. Na prática...

Orçamento limitado faz a gente pular em cima dos dois últimos casacos de frio da loja quando descobre que, sim, o desconto de 60% é em cima do valor da etiqueta. Alegria geral, risada instantânea nos outros consumidores (a gente provoca isso nas pessoas, eu e Cíntia, por que será?). O frio da Europa faz a gente gritar - e isso não é força de expressão, mas demorou pra acharmos um casacão que preenchesse os requisitos básicos BBB. Fazer o euro ou a libra renderem valia um mestrado em si.

Fora o momento piada-pronta, e agüentar a brincadeira dos amigos que rendeu a foto que ilustra esse post, estamos aí, cada uma em um país, quentinhas como sonhávamos desde outubro.

Glamourosas, acima de tudo.

A gente pega ônibus tarde da noite em vez de táxi pra economizar, mas em compensação o ônibus passa pela Champs Elysées ou a Bastilha, por Picaddily Circus ou Big Ben. Fazemos farra em casa pra não pagar o absurdo dos drinques nos bares e pubs, mas bebemos champanhe e vinho nacional. Trocamos restaurantes por animados jantares no apê de amigos, mas continuamos provando o melhor crepe legitimamente francês ou as maravilhas da culinária internacional.

Quem disse que dinheiro curto não combina com aproveitar a vida?

P.S. Encontrei outro dia no metro duas amigas com a mesma meia calça com a mesma tonalidade rosa-pink. A gente pode dizer que tava aproveitando uma promoção, qual a desculpa delas??

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Buraco negro virtual

O msn é a minha arma para testar malucos. O povo aqui na França tem mania de pedir telefone. Eu, que não quero nenhum psicopata em potencial me ligando, só passo o meu msn. Na vida real, é feio bater com o telefone na cara dos outros. Na vida virtual, você pode ficar "ausente" por horas e ninguém acha ruim ou grosseiro. Mas a cibervida tem momentos estranhos.
Nessa minha vida de jovem ligada às novas tecnologias, descobri que mais chato que o cara que some no além é o cara que some no mundo virtual.

Vamos aos relatos.

O gêmeo virtual me bloqueou

Desesperada com a minha falta de jeito para acompanhar as aulas de cartografia, resolvi participar de tudo quanto é colóquio e seminário do tema. Numa dessas, conheci um menino, estudante de cartografia, que ao ouvir meu drama, se prontificou a me ajudar. "Me passa o seu msn e você me envia as suas duvidas. Eu te ajudo", disse. Fiquei empolgada. Estava cansada de ser esculachada pelo monitor da aula de cartografia. Tirei 11 numa prova que valia 20. Ih, achei que com o meu novo amigo teria minha grande volta por cima.
Trocamos msn, ele tirava as minhas duvidas e me deu dicas valiosas. Além disso, tínhamos otimas conversas sobre futebol e geopolítica. Um dia me chamou para um café pelas bandas da Sorbonne. "Leva os mapas para eu dar uma olhada".
Cheguei la e o menino não abriu a boca. Pois é, o menino intercalava looongos silêncios com monossílabos. Nem falou dos mapas. Pensei cá comigo: "esse deve ser o irmão gêmeo dele. Não é possível ele ser a mesma pessoa do chat".
Mais um longo silêncio e o menino da uma gargalhada do nada. (medo!) "Muito engraçado esse cara", comentou.
Ué, que cara é esse, se estávamos só eu e ele à mesa?

-Ele: Ai, desculpa. Eu tenho essa mania. Eu adoro ouvir a conversa dos outros. Não consigo me concentrar em conversar se há outras pessoas falando no mesmo local. Vamos fazer assim, entra mais tarde no msn e a gente continua a nossa conversa. Garçom, a conta por favor!

Fiquei com uma cara de tacho e incredulidade. Eu, hein. Que freak! Entramos no metrô e ele disse: "Mais tarde no msn, hein" e piscou o olho.
Essa piscadela foi fatal. O menino, que sempre estava online no msn, sumiu para todo o sempre. Num passe de magica. Graças à Melissa entendi que certamente fui bloqueada. Fiquei chateada. Como assim, minha gente? Um menino bizarro com manias estranhas me bloqueou! Ainda bem que ele só tinha o meu msn. Se ele tivesse o meu telefone e tivesse batido com o telefone na minha cara ficaria muito mais chateada.

Bônus história de superação: mesmo sem a ajuda do meu ex-amigo virtual tirei 16 na prova de cartografia que valia 20. eh!



Morte aos emoticons

-Minha amiga conheceu um fulaninho francês numa boate. Conversa vai conversa vem, trocaram telefones e msn. Começa o ritual de conversa virtual e marcaram um date inaugural. Daí seguiu-se uma série de encontros românticos: passeios à beira do Sena, bistrots, cafés, vinhos ao luar. Tudo bem idílico. Ela apresentou o moço às amigas e todas se encantaram. Animada, depois de mais de um mês de romance estilo Sabina, a mocinha arriscou chamar o moço para um jantar íntimo. O moço cumpriu o seu papel de francês de filme e apareceu com champagne. Tudo acontecia naturalmente rumo ao desfecho inevitável e previsível até que... o menino travou.
Ele-Não vim aqui prá isso. Não sou dessas coisas.

Ela- O quê?!

Ele- Vou embora!

[Comentário da minha amiga: "Cíntia, nunca vi ninguém vestir uma roupa tão rápido. Devia ter filmado para te mostrar ou colocar no YouTube. Impressionante. Foram 2 segundos, incluindo tênis, gorro e casaco.] E, vupt, o menino se pirulitou no mundo. Nunca mais foi visto. desapareceu do mundo _virtual e real_ conhecido.

Muitos meses depois, ele enviou uma cerveja pelo Facebook. Uma cerveja? Isso ai, uma cerveja como se nada houvesse acontecido e sem dar nenhuma explicação sobre o sumiço.

Vem cá, se na vida real um cara some e reaparece com uma lata de cerveja estaria desculpado? Então porque isso seria válido para o mundo virtual?

Nem bem ela superou a raiva dessa presepada da cerveja, eis que o gaiato ressurge no msn. Uma janelinha com um emoticon triste. Ela ignorou. Aí, o artista faz aquelas flores de ponto e vírgula. Ela ficou offiline de raiva.

Comentário: flor de ponto e vírgula é o equivalente a receber um buquê de flores de plástico. Um atestado de mau gosto e não serve como pedido de desculpa.

Eu não queria dizer, mas...

Eu tenho uma notícia difícil pra dar pra vocês. Sabe aquele carinha que sempre puxava papo com você pela internet e que, nossa, que coisa, nunca mais entrou no MSN? Pois é, 90% de chance de ele ter bloqueado você.

Difícil, eu sei.

Contei a verdade dura pruma amiga outro dia e ela ficou passada. Tudo bem bloquear os outros, mas ser bloqueado não é muito fácil de encarar. A gente é bonitinha, inteligente, bem-humorada, não pega no pé de ninguém, por que danado alguém vai bloquear a gente??

Em defesa dos softwares de comunicação instantânea, a ferramenta de bloqueio é muito útil, sim. Acabou o namoro, não quer dar mais chance pro sujeito? Bloqueia. O ex-paquera não deixa de chamar você pra conversar lorota? Bloqueia. Abusou-se do ex-namorado? Da’ um tempo, bloqueia o cara. Se arrependeu de ter dado o MSN na balada pro mala que escreveu que não quer lhe “dessepicionar”? Block him!

Isso no campo amoroso. Profissionalmente, é uma maravilha deixar de ser importunado por alguém sem ter que ser deselegante. Sim, porque a grande vantagem é que o bloqueado continua inocente na história – pra ele, você só está off-line. Perfeito!

Uma amiga desenvolveu uma sofisticada estratégia. Ela desbloqueia os desafetos de tempos em tempos só pra eles não acharem que estão bloqueados. “Nossa, nunca mais vi você online.” “Pois é, muito estudo, começo de ano é fogo, sabe como é.” Muito trabalhoso, mas tem a vantagem de ela não se indispor com ninguém.

Eu, que já era uma web addicted por vocação, me profissionalizei no assunto e agora enlouqueço de estudar pra ter um diploma oficial de nerdice, já vi de tudo nesse mundo virtual. Dates eletrônicos, dengo sendo mandado online, aluna e professor teclando de madrugada o que não podem dizer na turma da pós-graduação, relacionamentos começarem e terminarem no MSN (sim, de pedido de namoro ‘a conversa definitiva). Ou seja, pra mim email é a mesma coisa que carta de papel, e não vejo frieza na internet.

Feito o prelúdio, alguém pode me explicar qual é a graça na maioria dos aplicativos do Facebook? Eu tenho vontade de voar no pescoço do meu colega de classe indiano que não pára de me mandar “mordidas” virtuais. Não, pessoal, nada romântico. É um jogo de vampiro, quem é mordido vira zumbi, ganha quem “morde” mais gente. Re-lo-ou! Com essa montanha de livro pra estudar, quem tem tempo de tentar virar vampiro virtual? Get a life! Vá passear por Londres que é mais negócio! A explicação do meu amiguinho inglês/mexicano para a nossa falta de interesse em contribuir para a dinastia do Conde Drácula está no numero três na frente da nossa idade. Sim, a média da turma é baixíssima.

Devo informar que nunca gostei de perder tempo nessas brincadeiras virtuais. E só entrei no Facebook por insistência dos coleguinhas – olha a pressão de grupo de que meu terapeuta falava. ; ) Ninguém por aqui faz idéia do que é Orkut (a rede de comunidades do Google só faz sucesso no Brasil e na Índia). Ai, será que ainda tenho chance na minha candidatura a nerd?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Conversa pouca, pegação muita

Não sei como é que os ingleses fazem para paquerar, até porque o que menos tem em Londres é inglês (rá!). Ouvi dizer que eles são tímidos para o contato inicial, daí a freqüente aproximação quando estão bêbados e, portanto, inconvenientes. Como eu não acredito em estereótipos, quando descobrir se é assim mesmo eu conto pra vocês.

Já na comunidade estudantil internacional... Ao que parece, a norma é aproveitar o ano de estudo longe de casa como se o mundo fosse acabar. Para mestrandos de todos os matizes, não há tempo a perder. Romantismo, como o beijo na boca, é coisa do passado. Exclusividade, ih, só quando você não quer. O que para a sua avó seria promiscuidade, aqui é simplesmente "ser jovem".

O recorde é de uma mocinha por aqui que estava dando conta de um croata, um peruano, um iraniano e dois brasileiros, mais ou menos ao mesmo tempo. Ela justifica com a quase obrigação do "good night kiss" ao fim de um date. Pragmatismo não rima com romance. O croata mesmo dançou quando insistiu em dizer com todas as letras que aquilo não ia dar em namoro. Ela nem namorar queria, mas o blablablá desnecessário acabou estragando o clima.

E não adianta se proteger atrás do compromisso. Diálogo bizarro:
- Eu não posso namorar você, eu já tenho namorado.
- E o que é que tem?
- Como assim, o que é que tem?
- Ele está no Brasil, não tem previsão de vir pra cá, eu não me importo.

Hein?

Um iraniano tentou ser mais astuto. Disse que tudo bem, a gente ainda pode ser amigo, né. Mas engatou uma seqüência de ligações tão freqüentes que mesmo a mais carente das mocinhas sairia correndo, com medo. Eu saí correndo, com medo. Simpatia brasileira tem limite.

Outro tentou se aproveitar da minha falta de solteirice. Propôs um não-date. Quer dizer, eu achava que era um não-date, mas era um date. Como assim? Assim: ele também tinha deixado um alguém em seu país de origem. Queria sair com uma mocinha comprometida.
- Para a mocinha não ter expectativas?
- Não, ao contrário.
- Ah, para não cair em tentação?
- Não, nada disso.
- Então...
- Se os dois estivermos na mesma situação, e algo vier a acontecer, pode ser mais divertido.

Hein?

Viver perigosamente é o must do inverno londrino. Pelo menos entre os jovens. E aí não faz diferença se você tem 20 ou 30.

Historieta-Bônus
Uma conhecida é a prova de que coração partido não combina com vida de estudante no exterior. O namoro acabou? Só fica na residência universitária sofrendo se quiser. Ela ficou, navegando na internet. Foi chamada por um no MSN, por outro no GTalk, recebeu email de um terceiro. Já dá uma animada. No dia seguinte ligaram convidando pra sair. Não os mesmos, outros. Isso mesmo, outroSS. Como se dizia no Rio, perdeu, playboy.