sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quem quer casar comigo?

Mulherada, hoje pode. Armem-se de coragem e ataquem os rapazes que fazem a festa no coração de vocês.

Disse a Rainha Margaret nos idos de 1288 na Escócia que no dia 29 de fevereiro a mulher podia driblar a tradição e propor seu amado em casamento. O melhor? Ele não pode dizer não!

Meus amiguinhos desligaram os celulares e estão fugindo das namoradas e pretendentes como nunca. Difícil missão para uma sexta-feira. Vai que alguma leva a tradição a sério e pop the question mesmo?

Conheço poucos pedidos de casamento de surpresa, pouquíssimo com a iniciativa de mulheres, principalmente nessa era em que as pessoas “vão casando” aos poucos, na definição de uma ex-professora de alemão. Na ficção, nos emocionamos com Monica pedindo Chandler em casamento no apê repleto de velas (Friends) e mais recentemente rimos com a Susan se antecipando ao pedido de Mike (Desperate Housewifes).

Os jornais britânicos, naturalmente, descobriram as corajosas da vida real e ainda deram um monte de idéia para quem pretende garantir um marido. O melhor conselho de todos: proponha no escuro, quando vocês forem dormir. Cem por cento de segurança de evitar a cara de horror que tem 95% de chance de ele fazer. Rá.

O costume britânico não tem perigo de ganhar minha adesão. Tá certo que o 30 é o novo 20, mas não sou tão modernosa assim. Além do quê, já tenho pedido de casamento pendente. :D

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Terremoto? Onde? Onde?

Sobrevivi ao terremoto.

Droga. Nem dizer isso eu posso. Para decepção geral da nação, eu não senti nem cosquinha. Dormindo estava, uma hora da madruga que era, dormindo continuei. Teve gente aqui na residência universitária que disse que chegou até a acordar. Vamos fingir que a gente acredita.

Tô há quase seis meses nessa terra e não tenho uma história pra contar de terremoto, atentado, morte de princesa, assassinato de brasileiros inocentes no metrô, essas coisas de civilização que o nosso país tropical não tem. Nadica de nada. Aí me vem o maior tremor de terra em 25 anos, vejam só, e eu sã e salva? Muito sem graça isso.

Ah, por sinal, muito obrigada pela preocupação, viu! Ninguém me ligou/escreveu/postou comentário pra saber se eu tava bem (alô, drama). A mãe de uma chinesa colega minha ligou pra ela às 4 da manhã, porque já era meio-dia em Pequim quando as notícias começaram a surgir na tevê. Ela, como eu, nem sabia do que se tratava.

Minha amiga do Alasca diz que tremor mesmo é o que ela tem lá na terra dela. São tantos que ninguém nem interrompe telefonema – “Peraí, deixa acabar o terremoto. Pronto, fala”.

Aí descobri que estou totalmente despreparada para lidar com a acomodação das placas tectônicas. Tem toda uma técnica – de colocar as mãos na nuca, passando por ficar embaixo da mesa até se proteger numa banheira! Muito a aprender nessa vida!

Quem disse que eu ia voltar de Londres só com um diploma de nerd?


P.S.
Não, não esqueci que o Brasil tem tido tremores de terra – Caruaru há quase dois anos, Minas, Amazonas, etc desde então, Ceará há somente uns 10 dias –, mas vamos combinar que essa informação depõe contra o meu pedido expresso de dengo, né!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Meu patriotismo tem preço: 35 libras

Salvem-me, por favor. Estou sendo execrada por parte significativa da comunidade brasileira em Londres porque não pretendo assistir ao jogo Brasil x Suécia daqui a um mês, 26 de março. Praticamente a versão tupiniquim da revolta kosovar. Salve, salve, Pátria amada, Brasil.

Eu sei que “é a seleção”. Eu sei que “é uma oportunidade única de ver um jogo do Brasil enquanto a gente tá morando aqui”. Eu sei que “o estádio Emirates é o máximo”. Mas trinta e cinco libras pra passar frio vendo o Brasil jogar um amistoso?? Com a Suécia? Se ainda fosse com a Argentina (pela rivalidade), a Itália (pela, anh, simpatia dos jogadores) ou pela Inglaterra (já que tô morando aqui)!

Façam as contas. Eu costumo multiplicar por quatro, lá iriam 140 reais. Tá bom, vamos ser mais precisos, £ 1 = R$ 3,35. Cento e vinte reais por um joguinho furreca*??

[Já estou ouvindo os torcedores virtuais revoltando-se diante da minha heresia. Em minha defesa, detalhe que conta muitíssimo: eu nem de futebol gosto! Da última vez que fui a um estádio pra ver Sport – “Sport, Sport, Spoooort!” – e Santa eu fiquei entediada e perdi o único gol da partida, na metade do segundo tempo. Eu tava olhando pro outro lado.]

Mesmo se a gente considerar que são “35 dinheirinhos”, como a Cíntia me ensinou a fazer, você sabe o que se faz em Londres com esse dinheiro?

- Você vai prum show que você gosta muito (Rihanna por £35 semana que vem; Velvet Revolver por £ 34,50 no fim do mês; Avril Lavigne por £ 39,50 e Bon Jovi por £ 40 em junho; Jack Johnson por £ 40 em julho, The Chemical Brothers por £ 30 em agosto)
- Você consegue ingresso barato pra dois musicais ou então vai pra um só, mas sentando num lugar bom
- Você vai a três exibições de grande porte
- Você faz farra de sexta a domingo bebendo cerveja em pints num pub
- Você tem três refeições de qualidade (se for no tailandês delicioso aqui do lado, você almoça uma semana in-tei-ra, sete dias de felicidade)
- Você vai ver o Kevin Spacey no teatro – que é o que eu vou fazer!

Um dos poucos brasucas a dividir comigo esse momento pirangagem** no exterior foi um amiguinho que sim, gosta de futebol, mas usou o dinheiro pro show de uma banda indie que só vai tocar em maio.

Ué, achou longe? Aqui é assim, se você quer guardar o seu lugar. Tenho garantido o meu em atrações culturais de minha preferência com um mês e meio de antecedência, e isso não é muito. Os shows grandes mesmo se acabam em horas e podem ser vendidos com seis meses antes do grande dia. Ou mais.

Então tá combinado. Eles acenam pro Kaká e eu mando lembranças pro Kevin Spacey (sim, porque minha amiguinha americana faz questão de ir pra stage door, a portinha de onde os atores saem depois do show. Se render, eu conto aqui).

Se toda a minha argumentação não me redimiu, última bandeira de paz: não considerem minha deserção um ato antipatriótico. Pensem só que sou uma estudante sem recursos querendo adiar o plano B de financiamento internacional. Contei não? Se tudo der errado e ficar difícil bancar as atividades culturais, o plano é dançar no metrô. Eu vou de forró, Cíntia vai de samba. Cada uma no seu próprio nicho de mercado. A Europa não perde por esperar.

Bonus-referência
Pra vocês verem como a perspectiva faz toda a diferença. Eu aqui fazendo uma ode em prol do meu curto orçamento estudantil, e uma mocinha manda email pra lista da estudantada brasuca em Londres feliz da vida por “garantir” seu ingresso de preço “inacreditável”. “Ver o Brasil por 30 libras é o máximo”, regozija-se, dizendo que um Arsenal x Chelsea fica pelo menos por 200 libras. Fidel é que está certo em se aposentar antes que o capitalismo domine o mundo.

* paia, chinfrim, meia-boca
** ser mão-de-vaca, mão fechada, muquirana

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Farra no flat dos outros é refresco

Tá bom, eu vou contar.

Residência estudantil é uma pouca vergonha mesmo, um entra-e-sai de gente que só quer aproveitar a vida, vários rapazes diferentes nos quartos das meninas, várias meninas diferentes no quarto dos rapazes, portas destrancadas, barulhos estranhos, festa todo dia, bebedeira inconseqüente, estudo que é bom, nada.

Pronto, falei.

Felizmente minhas flatmates são tranqüilas. Tenho silêncio para estudar a qualquer hora do dia ou da noite.

Quando quero farra... vou pro flat dos outros. : )

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Em prol do anti-Dia dos Namorados

A quem interessar possa, hoje é Valentine’s Day. Por um dia a juventude deixa de se dividir entre os que têm 30 e os que ainda estão na casa dos 20. Hoje a solidariedade é o lema. Não importa a idade, somos os que têm ou os que não têm alguém para encontrar logo mais à noite.

O bloco democrático dos desacompanhados inclui os solteiros de fato e os de circunstância. Ou seja, aqueles para quem o amor existe, mas não pode ser concretizado hoje por motivo de força maior – o(a) amado(a) não está na cidade ou ele/ela deixou o(a) amado(a) para vir estudar/trabalhar em Londres, por exemplo.

Tentei me blindar com o pensamento positivo de que Dia dos Namorados é mesmo em junho, e este 14 de Fevereiro não tem importância, mas pela reação dos meus amiguinhos não fui muito convincente. A comunidade internacional não tarda em consolar os corações partidos.

Ninguém fica imune à sensação de que é o ultimo ser sem alguém pra chamar de seu. Passado o Natal, começaram as propagandas maciças e a decoração extravagante nas vitrines. E as centenas de rosas em todos os lugares da cidade não transmitem mensagem alguma de amor, mas gritam às solteiras que, sorry, este ano não tem flor pra você, darling. (Sempre resta a esperança, porém, de um admirador secreto tardio. Alô, ilusão!)

O mais divertido não é o que oferecem as festas para os enamorados, que estes estão com a vida ganha mesmo e vão se aborrecer em filas nos restaurantes com serviço a desejar (assim esperam os solteiros). A irreverência está nas celebrações anti-Valentine’s.

Catarse anti-romance
Aqui perto de onde moro tem a festa dos Discos do(a) Ex-namorado(a). É pra levar – e quebrar – os álbuns preferidos daquele que já mereceu todo o seu amor e carinho. Uma homenagem àquele namorado que se orgulhava da comunidade no Orkut "Quer romance? Leia um livro". Dress code: camisas do tipo “Eu nunca te amei mesmo”.

“Mó deprê” e “Abaixo o namoro” são duas festas que prometem, se vocês me permitem fazer tradução livre. No hit parade, todas as piores e melhores canções de dor de cotovelo e de ódio pós-romance. Tem uma boate que vai promover concurso dos piores poemas de amor. Haja amargura no coração.

A verdade é que cupido não escolhe lugar: eu já fui prum show de comédia num 12 de Junho e saí com um namorado.

Pra quem ainda acredita que o amor é lindo, ou que acha que uma pegação vai salvar o dia, bar brasileiro vai fazer a festa do sinal, aquela em que você veste vermelho, amarelo ou verde a depender do seu grau de aceitação da abordagem alheia. Outro vai fazer a festa do cadeado, aquele em que são distribuídos cadeados e chaves e a graça, pra quem acha, é descobrir quem é o seu par.

Na dúvida, uma colega minha desenvolveu uma estratégia esquisita. Acreditando piamente que rapazes se interessam mais por mocinhas comprometidas, rejeitou o convite de amigos para uma festinha caseira e não vai sair de casa hoje à noite. Nem vai entrar na internet. Tudo pra os pretendentes pensarem que ela está num date. Acha que assim garante o próximo Valentine’s Day. Eu disse que, nesse nível de (im)probabilidade, rezar pra Santo Antonio dava mais futuro. “Santo quem?”


Enquete
Amiga do blog recebeu convite de última hora e pergunta: um date no Valentine’s Day é um pedido de namoro? Se sim, e o mocinho iraniano em questão levar o assunto à tona justamente no encontro de hoje, pega mal dizer ‘não’?

Quem não tem cão caça com gato. Persa.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O mistério do presente persa

Eu ainda vou receber uma condecoração da ONU por manter a paz mundial.

Jantar pretensamente polonês. Pálidas coxinhas de galinha mergulhadas numa água turva com generosa superfície de óleo, acompanhadas de uma massa que quando crescer e fizer vestibular pode perder no ponto de corte para purê.

- Humm, que diferente!

Sobremesa japonesa. Retângulos cuidadosamente embalados, recheados com três massinhas gelatinosas, às quais se acrescenta o conteúdo de um potinho pequenininho de mel antes de degustar com uma colherzinha de madeira. Lindo e apetitoso, até entrar na boca. Doce de arroz com não-sei-o-quê japonês. Doce de eca.

- Humm, que diferente!

Noite vietnamita. Nativa reúne coleguinhas do mestrado pra mostrar a típica culinária nacional. A entrada era supostamente imperdível. Muito tradicional, toma-se a qualquer hora do dia ou da noite, eu já antevia sair de casa feliz para saborear sozinha o quitute nas noites frias londrinas pelo precinho módico de £ 3. Chega uma sopa rala com um fiapo de galinha em Hanói e outro em Saigon (tá bom, Hon Chi Minh). Me contive pra não dizer “a de lá de casa é melhor” e larguei o meu:

- Humm, que diferente!

A quem ouvir o comentário, um alerta. Não insista. “Ah, mas você gostou?” leva o interlocutor a 1) mentir; ou 2) dizer a verdade. E eu não gosto de mentir. Pelo bem da nossa amizade, aceite o “diferente” como uma prova de consideração. E vamos em frente.


Bônus diferente
Tive de usar o “diferente” pra descrever minha reação ao presente de um amigo iraniano. Mas eu não sei pra que serve o danado do negócio. Sugestões?



Posso dizer que tenho um tapete persa?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Segunda é a nova sexta

Este blog não precisa provar nada pra ninguém, afinal a gente sabe que o trinta é mesmo o novo vinte, mas vejam como a reedição de conceitos é uma tendência mundial.


Emprego fácil de encontrar, e você achará ótima
a chegada da segunda-feira, diz campanha massiva
de empresa de recrutamento em Londres.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

mini post de carnaval fora de época

Aos 20 anos:

Acredita-se que basta encontrar um grande amor para que tudo dê certo.

Aos 30 anos:

Já deu para aprender que só o amor não basta. Para um relacionamento dar certo, é preciso um trabalho considerável: tomar decisões, ser claro, fazer concessões, acaitar fazer compromissos... E tudo isso sem garantia de final feliz.

No momento 30 é o novo 20:
Sabemos de tudo isso, não tem como não sentir uma pontinha de tristeza, mas não é por isso que não vamos aproveitar "janelas de oportunidade" para beijar anônimos em uma festa de caráter popular .

-Mocinho sub-20: Caraca! 30 anos! Tudo isso! Pô, não tô de chamando de velha não, é que você não parece ter 30. Mas é legal, ser assim mais, sei lá, ...cabeça.

-Moça de 30!: Ah é, sou praticamente o Dalai Lama.

[sub-20 saradinho faz cara de que não entende a piada]

-Mocinho saradinho sub-20: Mas não rola assim uma pressão? Você não quer casar? Ter filhos?

Moça de 30!: Não nesta noite.

[sub-20 saradinho faz cara intrigada]

-Moça de 30!:Olha só, vamos beijar logo que a cada minuto eu vou ficando mais velha e mais "cabeça" e vou acabar desistindo de ficar com você.


bônus Carnaval: Um amigo francês me escreve no msn." Um amigo me contou que todo mundo se beija aí no Carnaval. Beija até desconhecido. E você, já beijou quantos? Quando é que você difundir essa' cultura' aqui em Paris. hehe!"


Definitivamente acho que é inútil lutar contra os estereótipos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mulher pelada procura

Eu desisto de querer mostrar que o Brasil é mais do que Carnaval e mulher sambando seminua. A comunidade internacional quer isso mesmo.


Evidência 1
Me empenhava no meu discurso multiculturalismo, diversidade racial, plurietnia, mas meus amiguinhos só ficaram satisfeitos quando achei as fotos que eles queriam. A simplicidade dos fatos (para mim, cruel) veio com o comentário diante de mulatas e branquelas rebolativas com pouquíssima roupa:

- Ah, é por isso que a gente ama o Brasil!


Evidência 2
Eu começava uma explanação empolgada sobre a multiplicidade da manifestação popular, a convivência de diferentes influências, grande caldeirão musical, blablablá, pontuando a singularidade da festa do Recife, bem menos conhecida internacionalmente que a exuberância carioca, e estava para começar a citar os outros carnavais famosos do país quando fui bruscamente interrompida:

- Não me interessa o lugar. Só quero ver mulheres nuas dançando.


Evidência 3
Gringo conta grande viagem que fez ao Brasil, coincidindo com a época de Carnaval, quando pôde ver diversas facetas da nossa festa, coisa e tal. Tomou o que viu como síntese de brasilidade e desde então espalha por aí que:
1) No Brasil, é normal as mulheres dançarem nuas ou seminuas;
2) No Carnaval, é socialmente aceitável vestir saias curtas sem usar nada por baixo;
3) Uma das fantasias mais em voga é “vestir” apenas tinta pra cobrir o corpo.


É uma luta perdida. Contra o imaginário coletivo, até a minha autenticidade foi colocada à prova.

A saber.

Festa carnavalesca em Londres, brasucas e gringos disputando espaço no salão, entra um grupo de maracatu. Começo a dançar o que anos de pernambucanidade me permitem exibir. Vexame fragoroso. Olhares de reprovação e desprezo. Os gringos acharam que era samba! E sambavam com toda a desenvoltura que Deus não lhes deu!

Na Quarta de Cinzas, a resignação é o que me resta.


Bônus de Carnaval
A inconveniência típica dos dias de folia não precisa de ambiente tropical para se manifestar. Na falta de dotes físicos ou intelectuais, o trunfo derradeiro do brasileiro desesperado para faturar uma mocinha: “É Carnaval, gatinha, tem que beijar”. Eu, hein!