quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Será que Sansão tinha razão?

E eu que acalentava há séculos o sonho do cabelo curto, resolvi tomar coragem e partir pra empreitada. Se não em Londres, onde ninguém liga pra como você aparenta, onde? Se não agora, quando?

Então resolvi fazer isso da maneira mais típica possível - servindo de hair model. Sim, cortar o cabelo a custo baixo (no meu caso, a custo zero, porque eu tinha um voucher) em uma escola de cabeleireiros. Fui no renomado Tony&Guy.

Achava eu que ia chegar lá, ia ser chamada pelo nome, ia cortar o cabelo e ia embora. Engano dos brabos. Fila enooorme de gente pirangando pra cortar o cabelo. Primeiro, lê as instruções e assina um papel, ciente que a coisa pode dar (muito) errado. Depois vai pruma espécie de triagem, e fiquei felizinha de ir pra "big room", que não sei por que me pareceu melhor do que a "small room".

Minutos infindáveis até que surgissem os professores (cabeleireiros moderninhos, a minha tinha cabelo pink-desespero e bolero de oncinha) e os alunos (um monte de japoneses esquisitééérrimos). Medo. Muito medo.

Claaaro que o meu japa tinha q ser o mais esquisito. Cabelo laranja, sobrancelha rosa, inglês inexistente, 18 anos, 1º corte de cabelo da vida. Hein? Sim, bateu um medinho, mas o cabelo cresce, o que pode dartão errado?

Não parecia tão simples pra brasileira q tava no meu lado (ai, como tem brasileiro no mundo!), que ficou com cara de desesperada durante 2h50 e só foi relaxar nos 10 minutos finais. Eu achei graça de tudo, menos de perder meu tempo precioso em Londres por causa de pouco dinheiro. Primeira e última vez, porque tava quase eu mesma pegando a tesoura pra mostrar ao meu japa como é q se fazia para pelar meu cabelo pela metade.

Ah, um fofo ele. Dai-Xin, com quem desenvolvi uma conversa do tipo Mim, Tarzan, Você, Jane. Pegava no meu cabelo com tanto cuidado que dava pena. Cortou com tanta atenção que eu já não agüentava esperar. Mas fez shiatsu enquanto eu perdia a paciência, escreveu numa maquininha tradutora que sentia muito de me fazer esperar e me deu ao final um livrinho japonês de histórias em quadrinhos. Mas nada muda o fato de que tinha 18 anos e era o primeiro corte da sua vida. Quem me salvou foi a professora, Efi, menos pelo fato de que ela ficava dizendo que tava lindo meu cabelo armado como se fosse a Simone/Elba Ramalho/Gal Costa. "Tá super na moda", ela me dizia. Ou seja, não ficou bom, e saí glamourosa pela Orford Street tentando desarmar o circo na minha cabeca. Rindo muito, sozinha.

Dias depois... A redenção parisiense no Armand e sua tesoura mágica (leiam no post abaixo).

Na universidade, minha chegada triunfal atrapalhou a aula com direito a um sonoro “ooooh”. Meu amiguinho russo tomou susto tão grande que apontou pro meu cabelo e deixou cair o queixo. Delicado que só ele, emendou depois: “Quem fez ‘isso’ com você?”. Valeu a força.

PS. Aceitam-se palavras de conforto.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cabeleireiro auto-ajuda

Eu tentei me adaptar ao meu orçamento de estudante-bolsista.

Primeira providência: limitar a freqüência de escovas com profissionais. O estilo «faça-você-mesmo» durou pouco tempo. Meu cabelo foi ficando ressecado sem contar as crises de resfriado por sair com o cabelo úmido no frio. Na segunda etapa, decici procurar cabeleireiros a preços populares. Mas a receptividade das africanas e coreanas, as mais baratas da categoria, foi fria: «A gente não faz escova aqui não. Só fazemos trancinha ou megahair», apontando para uma vitrine com apliques de nylon. Foi a minha vez de responder: «Não trabalho com materiais sintéticos».

Sem grana para ir a um cabeleireiro na rua do Faubourg St. Honoré (o mais chique dos chiques) e sem ser acolhida pelos cabeleireiros do povão, comecei a vagar pela busca do cabeleireiro «glamour intermediário». E encontrei: «Armand, o especialista do cabelo cacheado, ondulado, crespo e frisado», diz a placa. Eureca! Na esquina da minha casa. Num salão decorado por tapetes de zebra, Armand, o responsável pelo 'relooking' das autoras, recebe as suas clientes com chás, café e revistas de fofoca. Até aí, tudo normal. Mas o exotismo de Armand fica por conta de suas pérolas de sabedoria entre uma escovada e outra.

Pérolas de Armand

Dicas de beleza específicas para mim e para a Melissa:
«Vocês têm uma beleza natural, mas não podem sair de casa com essa cara lavada»
«Esse corte novo só vai ficar bom com um pouco de maquiagem»
«Depois de escovar o cabelo, sacode e joga pra trás»
«Uma palavra para você e para a sua amiga: corretivo de olheiras».

Relacionamentos:
«Se depois de um ano, o moço não te apresentou para a família nem fala em casar ou morar junto ih... ele não quer nada sério».
«Antes de casar, observe bem o pai do pretendente.»
«Com esse decote aí e de escova, não precisa nem se esforçar para conversar muito.»

Dinheiro:
«Viagens e imóveis são os melhores investimentos.»

Pérola-mor pré-date: «Pode deixar ele passar a mão em tudo, menos na minha escova, hein.»

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Saudade da vida moderna

Se não fosse a falta que sentimos das pessoas, a gente viveria na Europa pra sempre. Apreciamos pequenos prazeres como andar na rua sem o risco de ser assaltada e valorização profissional, essas bobagens que a gente não liga quanto está no Brasil.

Felizmente MSN e Skype tão aí pra ajudar a matar a saudade dos nossos amigos e parentes (uma de nós fala mais com os pais aqui do que quando morava em terras tupiniquins).

Daí porque, sem usufruir da tecnologia, as pessoas que mais sentimos falta na Europa são:
- a manicure
- o cabeleireiro
- a depiladora
- o terapeuta
- a faxineira
- a lavadeira

E não necessariamente nessa ordem!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Não nasci pra groupie

Ser jovem é padecer... na fila! Na Inglaterra é assim.

O que acontece quando uma banda de rock anuncia no site que vai fazer um show surpresa de graça numa lojinha de disco naquela mesma noite?

- Você pensa “Ai, que legal, vou lá conferir”.

O que acontece quando essa banda é o Radiohead e a cidade é Londres?

- Você e a torcida do Flamengo pensam “Ai, que legal, vou lá conferir”. Ou melhor, eu penso “Ai, que legal, é aqui perto de casa mesmo” e a torcida do Flamengo (britanizando, do Manchester United) pensa “Não posso perder essa, mate”.

Resultado: uma fila enooorme o dia inteiro. Não é força de expressão. O dia in-tei-ro. Teve gente que passou 12 horas na fila. Eu só passaria 12 horas na fila por... por... Nem sei por quem!(queremos saber: quem merece que você passe 12 horas numa fila? Comentários abaixo, por favor.)

Amiga diz que passaria pelo U2; amigo diz que Oasis vale o sacrifício. Eu só consigo pensar em nomes como Michael Jackson (que está negociando pra vir pra cá em setembro ou outubro, eba!) ou Madonna (já estamos economizando para o show de 50 anos da diva no Central Park, em agosto. Cintia diz que o 50 da Madonna é o novo 30!)

Eu nem gosto dos caras, mas depois que um amigo pernambucano me intimou a ir prum show do Radiohead de qualquer jeito durante minha temporada britânica (24 e 25 de junho, Victoria Park), achei que valia passar pela Brick Lane (sim, a do Jack, o Estripador) e tentar entrar.

Relou, eu tava pensando em quê? É o Radiohead, não é a bandinha da esquina. Aliás, não tinha lugar nem pra bandinha da esquina! Os músicos da bandinha que toca no pub da esquina estavam na fila. E não conseguiram entrar!!!

Claro que só tinha marmanjo esperando. No frio? Na chuva? Por 12 horas seguidas? Nananina, não dá pra mim. Vou ter que arranjar outro jeito de provar que sou jovem.

Para quem se interessou – nem o Radiohead achava que ia dar tanta gente; tiveram de trocar o plano lojinha de discos + telões pelo bar do fim da rua. Teve quem adorou, teve quem achou que eles tocaram muito o disco novo e pouco dos sucessos. Reclamar, ao lado de falar do tempo, é mania nacional.

É como disse um jornalista – se fila fosse esporte olímpico, a Inglaterra ganhava medalha de ouro. Os jornais mostraram como o dia tinha sido tranqüilo na fila de 1.500 pessoas, com amigos recém-feitos se organizando para necessidades básicas. Eu desisti antes de começar. A necessidade faz o fã.

sábado, 19 de janeiro de 2008

O limite da juventude

Sexta-feira à noite. Surge um convite: festa de uma gravadora independente de rock. O local: uma espécie de galpão antigo às margens do canal Saint Martin. O público: jovens parisienses "branchés" (descolados, em francês). Aceitei o desafio.
No lugar, paredes pretas e tudo muito escuro. A média de idade de 24 anos com picos de 60 anos(roqueiros das antigas em busca de um novo som).
Começa o primeiro show. Uma menina deveria ter uns 18 anos, tocava o seu tecladinho retrô e cantava de forma meio desafinada para os meus ouvidos (ai, esses jovens...). O público, porém, aplaudiu com entusiasmo.
Segundo show. Aí começou um verdadeiro martírio. O que dizer? A minha impressão era que o líder do grupo havia ganhado um teclado Yamaha na véspera e resolveu apertar todos os botões e teclas do teclado de uma vez só. Cada música durava pelo menos uns 15 minutos para delírio da platéia e meu desespero. "É uma coisa experimental", me explicaram. "É conceitual", disse outro. Na minha cabeça, eu pensava como um velho :"isso aí, meu filho, não é música".
No palco todo preto, o grupo todo de preto tocava no escuro em meio à muita fumaça.
Diaólogo surreal.

eu: nossa, quanto tempo esse pessoal vai passar afinando os instrumentos?
interlocutor: ih, cíntia, essa já é a música. o show já começou.

A música em questão era uma longa seqüência de vogais com guitarras e bateria e uns gemidos. Tudo muuuito alto. Perdi 10% da minha audição com certeza. Resolvo dar uma volta. Fui ao banheiro. Na fila gigantesca, um gaiato jovem puxa papo.
gaiato jovem: impressionante essa banda, né?
eu: diferente...
gaiato jovem: vc não sente a influência de %&*$.
eu: quem? não conheço.
gaiato jovem: %&*$. Eles estão trabalhando muito na cena underground aqui em Paris e em Londres.
eu: ah, tá.
gaiato jovem: vc escuta o quê?
eu: os clássicos, David Bowie...
gaiato jovem: e assim mais atual?
eu: ah, sei lá, Franz Ferdinand. (crente que estava abafando)
gaiato jovem: ah, mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30.
(oops!, pensei eu).

Assumindo mentalmente a minha idade, fui procurar uma cadeira pra me sentar porque até chegar a hora do último concerto da noite, justamente o do meu amigo, ia ter que esperar muito e engolir muita fumaça de gelo seco.
Peguei minha coca sem gelo (ai, minha garganta) e fui sentar num cantinho numa cadeira de plástico. Foi isso. Minha juventude descolada durou duras horas.

Definitivamente, não basta colocar um all star para ser jovem.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quem converte não se diverte

Carinha com ar debochado-malicioso vê as amigas no metrô...


...e manda:

- Vocês são gêmeas?

Brasileiras, sempre sorridentes, até com quem merece um belo fora, respondem:

- Não, foi liquidação mesmo!

Amiga que é amiga faz compra junto. E compra o mesmo produto. Nessa filosofia, eu e Cíntia temos botas iguais, sapatilhas similares e, nossa mais recente aquisição, casacos pesados de frio semelhantes. Mesma cor. Mesmo tamanho. Mas o mocinho do metrô se enganou. Não são idênticos. O meu veio com um adesivo do Incrível Hulk no punho esquerdo, tá.

A gente sempre gostou de promoção. Mais roupinhas por menos dinheiro, se não fosse a chatice de lutar pelas melhores peças... Mas promoção ganha um novo significado quando se é estudante no exterior. Questão de sobrevivência. A gente quer se convencer que está pagando em “dinheirinhos”, feito no Banco Imobiliário. Sabe como é, quem converte não se diverte. Na prática...

Orçamento limitado faz a gente pular em cima dos dois últimos casacos de frio da loja quando descobre que, sim, o desconto de 60% é em cima do valor da etiqueta. Alegria geral, risada instantânea nos outros consumidores (a gente provoca isso nas pessoas, eu e Cíntia, por que será?). O frio da Europa faz a gente gritar - e isso não é força de expressão, mas demorou pra acharmos um casacão que preenchesse os requisitos básicos BBB. Fazer o euro ou a libra renderem valia um mestrado em si.

Fora o momento piada-pronta, e agüentar a brincadeira dos amigos que rendeu a foto que ilustra esse post, estamos aí, cada uma em um país, quentinhas como sonhávamos desde outubro.

Glamourosas, acima de tudo.

A gente pega ônibus tarde da noite em vez de táxi pra economizar, mas em compensação o ônibus passa pela Champs Elysées ou a Bastilha, por Picaddily Circus ou Big Ben. Fazemos farra em casa pra não pagar o absurdo dos drinques nos bares e pubs, mas bebemos champanhe e vinho nacional. Trocamos restaurantes por animados jantares no apê de amigos, mas continuamos provando o melhor crepe legitimamente francês ou as maravilhas da culinária internacional.

Quem disse que dinheiro curto não combina com aproveitar a vida?

P.S. Encontrei outro dia no metro duas amigas com a mesma meia calça com a mesma tonalidade rosa-pink. A gente pode dizer que tava aproveitando uma promoção, qual a desculpa delas??

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Buraco negro virtual

O msn é a minha arma para testar malucos. O povo aqui na França tem mania de pedir telefone. Eu, que não quero nenhum psicopata em potencial me ligando, só passo o meu msn. Na vida real, é feio bater com o telefone na cara dos outros. Na vida virtual, você pode ficar "ausente" por horas e ninguém acha ruim ou grosseiro. Mas a cibervida tem momentos estranhos.
Nessa minha vida de jovem ligada às novas tecnologias, descobri que mais chato que o cara que some no além é o cara que some no mundo virtual.

Vamos aos relatos.

O gêmeo virtual me bloqueou

Desesperada com a minha falta de jeito para acompanhar as aulas de cartografia, resolvi participar de tudo quanto é colóquio e seminário do tema. Numa dessas, conheci um menino, estudante de cartografia, que ao ouvir meu drama, se prontificou a me ajudar. "Me passa o seu msn e você me envia as suas duvidas. Eu te ajudo", disse. Fiquei empolgada. Estava cansada de ser esculachada pelo monitor da aula de cartografia. Tirei 11 numa prova que valia 20. Ih, achei que com o meu novo amigo teria minha grande volta por cima.
Trocamos msn, ele tirava as minhas duvidas e me deu dicas valiosas. Além disso, tínhamos otimas conversas sobre futebol e geopolítica. Um dia me chamou para um café pelas bandas da Sorbonne. "Leva os mapas para eu dar uma olhada".
Cheguei la e o menino não abriu a boca. Pois é, o menino intercalava looongos silêncios com monossílabos. Nem falou dos mapas. Pensei cá comigo: "esse deve ser o irmão gêmeo dele. Não é possível ele ser a mesma pessoa do chat".
Mais um longo silêncio e o menino da uma gargalhada do nada. (medo!) "Muito engraçado esse cara", comentou.
Ué, que cara é esse, se estávamos só eu e ele à mesa?

-Ele: Ai, desculpa. Eu tenho essa mania. Eu adoro ouvir a conversa dos outros. Não consigo me concentrar em conversar se há outras pessoas falando no mesmo local. Vamos fazer assim, entra mais tarde no msn e a gente continua a nossa conversa. Garçom, a conta por favor!

Fiquei com uma cara de tacho e incredulidade. Eu, hein. Que freak! Entramos no metrô e ele disse: "Mais tarde no msn, hein" e piscou o olho.
Essa piscadela foi fatal. O menino, que sempre estava online no msn, sumiu para todo o sempre. Num passe de magica. Graças à Melissa entendi que certamente fui bloqueada. Fiquei chateada. Como assim, minha gente? Um menino bizarro com manias estranhas me bloqueou! Ainda bem que ele só tinha o meu msn. Se ele tivesse o meu telefone e tivesse batido com o telefone na minha cara ficaria muito mais chateada.

Bônus história de superação: mesmo sem a ajuda do meu ex-amigo virtual tirei 16 na prova de cartografia que valia 20. eh!



Morte aos emoticons

-Minha amiga conheceu um fulaninho francês numa boate. Conversa vai conversa vem, trocaram telefones e msn. Começa o ritual de conversa virtual e marcaram um date inaugural. Daí seguiu-se uma série de encontros românticos: passeios à beira do Sena, bistrots, cafés, vinhos ao luar. Tudo bem idílico. Ela apresentou o moço às amigas e todas se encantaram. Animada, depois de mais de um mês de romance estilo Sabina, a mocinha arriscou chamar o moço para um jantar íntimo. O moço cumpriu o seu papel de francês de filme e apareceu com champagne. Tudo acontecia naturalmente rumo ao desfecho inevitável e previsível até que... o menino travou.
Ele-Não vim aqui prá isso. Não sou dessas coisas.

Ela- O quê?!

Ele- Vou embora!

[Comentário da minha amiga: "Cíntia, nunca vi ninguém vestir uma roupa tão rápido. Devia ter filmado para te mostrar ou colocar no YouTube. Impressionante. Foram 2 segundos, incluindo tênis, gorro e casaco.] E, vupt, o menino se pirulitou no mundo. Nunca mais foi visto. desapareceu do mundo _virtual e real_ conhecido.

Muitos meses depois, ele enviou uma cerveja pelo Facebook. Uma cerveja? Isso ai, uma cerveja como se nada houvesse acontecido e sem dar nenhuma explicação sobre o sumiço.

Vem cá, se na vida real um cara some e reaparece com uma lata de cerveja estaria desculpado? Então porque isso seria válido para o mundo virtual?

Nem bem ela superou a raiva dessa presepada da cerveja, eis que o gaiato ressurge no msn. Uma janelinha com um emoticon triste. Ela ignorou. Aí, o artista faz aquelas flores de ponto e vírgula. Ela ficou offiline de raiva.

Comentário: flor de ponto e vírgula é o equivalente a receber um buquê de flores de plástico. Um atestado de mau gosto e não serve como pedido de desculpa.

Eu não queria dizer, mas...

Eu tenho uma notícia difícil pra dar pra vocês. Sabe aquele carinha que sempre puxava papo com você pela internet e que, nossa, que coisa, nunca mais entrou no MSN? Pois é, 90% de chance de ele ter bloqueado você.

Difícil, eu sei.

Contei a verdade dura pruma amiga outro dia e ela ficou passada. Tudo bem bloquear os outros, mas ser bloqueado não é muito fácil de encarar. A gente é bonitinha, inteligente, bem-humorada, não pega no pé de ninguém, por que danado alguém vai bloquear a gente??

Em defesa dos softwares de comunicação instantânea, a ferramenta de bloqueio é muito útil, sim. Acabou o namoro, não quer dar mais chance pro sujeito? Bloqueia. O ex-paquera não deixa de chamar você pra conversar lorota? Bloqueia. Abusou-se do ex-namorado? Da’ um tempo, bloqueia o cara. Se arrependeu de ter dado o MSN na balada pro mala que escreveu que não quer lhe “dessepicionar”? Block him!

Isso no campo amoroso. Profissionalmente, é uma maravilha deixar de ser importunado por alguém sem ter que ser deselegante. Sim, porque a grande vantagem é que o bloqueado continua inocente na história – pra ele, você só está off-line. Perfeito!

Uma amiga desenvolveu uma sofisticada estratégia. Ela desbloqueia os desafetos de tempos em tempos só pra eles não acharem que estão bloqueados. “Nossa, nunca mais vi você online.” “Pois é, muito estudo, começo de ano é fogo, sabe como é.” Muito trabalhoso, mas tem a vantagem de ela não se indispor com ninguém.

Eu, que já era uma web addicted por vocação, me profissionalizei no assunto e agora enlouqueço de estudar pra ter um diploma oficial de nerdice, já vi de tudo nesse mundo virtual. Dates eletrônicos, dengo sendo mandado online, aluna e professor teclando de madrugada o que não podem dizer na turma da pós-graduação, relacionamentos começarem e terminarem no MSN (sim, de pedido de namoro ‘a conversa definitiva). Ou seja, pra mim email é a mesma coisa que carta de papel, e não vejo frieza na internet.

Feito o prelúdio, alguém pode me explicar qual é a graça na maioria dos aplicativos do Facebook? Eu tenho vontade de voar no pescoço do meu colega de classe indiano que não pára de me mandar “mordidas” virtuais. Não, pessoal, nada romântico. É um jogo de vampiro, quem é mordido vira zumbi, ganha quem “morde” mais gente. Re-lo-ou! Com essa montanha de livro pra estudar, quem tem tempo de tentar virar vampiro virtual? Get a life! Vá passear por Londres que é mais negócio! A explicação do meu amiguinho inglês/mexicano para a nossa falta de interesse em contribuir para a dinastia do Conde Drácula está no numero três na frente da nossa idade. Sim, a média da turma é baixíssima.

Devo informar que nunca gostei de perder tempo nessas brincadeiras virtuais. E só entrei no Facebook por insistência dos coleguinhas – olha a pressão de grupo de que meu terapeuta falava. ; ) Ninguém por aqui faz idéia do que é Orkut (a rede de comunidades do Google só faz sucesso no Brasil e na Índia). Ai, será que ainda tenho chance na minha candidatura a nerd?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Conversa pouca, pegação muita

Não sei como é que os ingleses fazem para paquerar, até porque o que menos tem em Londres é inglês (rá!). Ouvi dizer que eles são tímidos para o contato inicial, daí a freqüente aproximação quando estão bêbados e, portanto, inconvenientes. Como eu não acredito em estereótipos, quando descobrir se é assim mesmo eu conto pra vocês.

Já na comunidade estudantil internacional... Ao que parece, a norma é aproveitar o ano de estudo longe de casa como se o mundo fosse acabar. Para mestrandos de todos os matizes, não há tempo a perder. Romantismo, como o beijo na boca, é coisa do passado. Exclusividade, ih, só quando você não quer. O que para a sua avó seria promiscuidade, aqui é simplesmente "ser jovem".

O recorde é de uma mocinha por aqui que estava dando conta de um croata, um peruano, um iraniano e dois brasileiros, mais ou menos ao mesmo tempo. Ela justifica com a quase obrigação do "good night kiss" ao fim de um date. Pragmatismo não rima com romance. O croata mesmo dançou quando insistiu em dizer com todas as letras que aquilo não ia dar em namoro. Ela nem namorar queria, mas o blablablá desnecessário acabou estragando o clima.

E não adianta se proteger atrás do compromisso. Diálogo bizarro:
- Eu não posso namorar você, eu já tenho namorado.
- E o que é que tem?
- Como assim, o que é que tem?
- Ele está no Brasil, não tem previsão de vir pra cá, eu não me importo.

Hein?

Um iraniano tentou ser mais astuto. Disse que tudo bem, a gente ainda pode ser amigo, né. Mas engatou uma seqüência de ligações tão freqüentes que mesmo a mais carente das mocinhas sairia correndo, com medo. Eu saí correndo, com medo. Simpatia brasileira tem limite.

Outro tentou se aproveitar da minha falta de solteirice. Propôs um não-date. Quer dizer, eu achava que era um não-date, mas era um date. Como assim? Assim: ele também tinha deixado um alguém em seu país de origem. Queria sair com uma mocinha comprometida.
- Para a mocinha não ter expectativas?
- Não, ao contrário.
- Ah, para não cair em tentação?
- Não, nada disso.
- Então...
- Se os dois estivermos na mesma situação, e algo vier a acontecer, pode ser mais divertido.

Hein?

Viver perigosamente é o must do inverno londrino. Pelo menos entre os jovens. E aí não faz diferença se você tem 20 ou 30.

Historieta-Bônus
Uma conhecida é a prova de que coração partido não combina com vida de estudante no exterior. O namoro acabou? Só fica na residência universitária sofrendo se quiser. Ela ficou, navegando na internet. Foi chamada por um no MSN, por outro no GTalk, recebeu email de um terceiro. Já dá uma animada. No dia seguinte ligaram convidando pra sair. Não os mesmos, outros. Isso mesmo, outroSS. Como se dizia no Rio, perdeu, playboy.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Não cala a boca e não beija

Uma das grandes contribuições do Brasil para o mundo, um dia ainda hão de reconhecer isso, é o «ficar». Sorriu, simpatizou, beijou. Pronto, sem complicações. Eu, que sou considerada lerda no Brasil em se tratando desse quesito, em terras francesas, fiz os nativos e outras nacionalidades corarem diante da simplicidade e da objetividade do nosso povo.

Expliquei de forma sintética as possibilidades de abordagem nos trópicos:

a) conversar um pouco antes e beijar

b) beijar e conversar depois.

c) beijar e não conversar depois. Ever!

Aqui em França não tem disso. Antes de beijar ou de pegar na mão, normalmente, é preciso estar preparada (o) para muuuuuuuuitas horas de conversa. Conversas presenciais em cafés, bares e afins. Conversas pelo msn, pelo celular. E muitos temas da atualidade: política internacional, o aquecimento do planeta, mundial de Rugby, eleição nos EUA. O povo francês adora um debate e não precisa ser um intelectual profissional para isso. Num país onde o mendigo diz que é uma vítima da globalização antes de esmolar, dá para ver que para beijar o empenho vai ter que ser muito maior.

Um francês nos resumiu o conceito de paquera local : «Ah, tem que se preparar para se encontrar umas cinco vezes, apresentar todo o seu currículo e conversar muito sem a garantia de beijo no final. É muito cansativo», admitiu.

Cronologia dos dates:

1-O menino pede seu telefone/ msn (isso pode acontecer no metrô, na balada, numa festa de conhecidos etc)

2-O mesmíssimo fulano vai enviar uma mensagem de texto engraçadinha

3-O menino vai te adicionar no msn imediatamente

4-Começa o ciclo de papo e as conversas vão ser constantes

5-O menino passará mais mensagens fofinhas por celular do tipo: estou pensando em vc, adorei te conhecer, seus olhos são lindos (essa é um grande clássico local)

6-O menino liga e marca um café e/ ou vinho num bar

7-Nesse primeiro encontro a conversa vai fluir, ou não, e isso vai determinar a sequência futura de dates. Atenção que a sua visão politica pode ser determinante

8-O próximo date provavelmente vai ser num restaurante e o menino vai julgar o seu gosto gastronômico (ainda que isso aconteça na cantina da faculdade). "Por que você não come porco, você é muçulmana?"

9-Depois de X horas de conversa, com o cabelo cheirando a fumaça das horas gastas dentro de um bar, pode pintar o beijo à porta de casa. Ufa !

10-A partir do beijo, há dois cenários possíveis : a) O menino some no buraco do metrô e te bloqueia no msn para todo o sempre; b) O menino pergunta sobre as suas intenções - "O que esse beijo significou para você?"- e te pede em namoro.*

*Aqui há uma categoria mais safadinha, porém pragmática, que dirá sem pudor. «Olha, não quero namorar. Você aceita uma relação forte (eufemismo para sexo) sem compromisso? » Mas atenção que essa opção não é garantia de uma relação light. Mesmo nesse cenário, é possível haver discussões sobre a freqüência dos encontros, a duração e, periodicamente, o fator « sem compromisso » pode estar sujeito à revisão.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Brasileira, eu sou - 2

Eu gosto de Carnaval e adoro a Bahia, mas minhas contribuições para o estereótipo de brasilidade não vão muito além.

Para decepção da comunidade internacional, eu também não gosto de caipirinha (prefiro caipirosca), não gosto de futebol (sou torcedora apenas em Copa do Mundo), não bebo café puro (mas adoro capuccino) e não ando só com brasileiros no exterior (o que para alguns é praticamente uma heresia).

Mesmo assim já tive de ajudar a fazer caipirinha, rabanada e brigadeiro, com cara de autoridade no assunto. Logo eu, para quem não cozinhar é praticamente uma bandeira de protesto!

Expatriado é um embaixador do seu país. No meu caso, involuntário.

Não sei explicar por quê, mas caí de pára-quedas numa noite de lambada para gringos. E, naturalmente, fui um fragoroso desastre no quesito desenvoltura no salão. Minhas habilidades de outrora não valiam muito diante da coreografia familiar a todos os demais. Antes de ser apresentada como brasileira legítima, curti um anonimato que me valeu o seguinte conselho:

- Esta é uma dança brasileira.
- Really?
- Tenha calma. Na lambada, é melhor fazer os passos atrasados do que adiantados. Eu conheço o Brasil. E os brasileiros fazem tudo atrasados.
- Ahahahah.

Só rindo. Quem não riu foi o gringo quando finalmente descobriu minha identidade secreta.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Brasileira, eu sou

"Cíntia, esquece essa coisa de Geopolítica. Isso não dá camisa pra ninguém. Você está aí na França, vai rebolar esse bundão." Esse foi o conselho de um amigo brasileiro.
Eu confesso que sempre tive muitos pudores com nacionalismo, com o compromisso de ser a brasileira tipo exportação, de ser exótica, digamos. Também tenho horror da patotinha de "brasileiros contra o mundo" que tende a se formar entre estudantes brasileiros no exterior.

Eu gosto de samba, mas não gosto de Carnaval, nem de micareta nem de aglomerações populares (vulgo: muvuca), eu gosto de futebol, mas não sei fazer embaixadinha. Não bebo café. Não bebo cachaça. Não conheço a Bahia. Não tenho grandes discursos nacionalistas no estilo :« O povo brasileiro é que é bom » , «O Brasil é que é lugar bom para viver" etc. Nada disso importa, uma vez estando no exterior, qualquer uma com o passaporte República Federativa do Brasil é uma Gabriela, cravo e canela, em potencial. Impossível fugir dos clichês.


E seguem os exemplos :


Pub da moda, o dj coloca uma musica tipo salsa, um colega de faculdade que sabe que eu sou brasileira aponta para mim e pergunta : « é samba ? ». Respondo : « não ». Próxima música, o dj coloca um zouk. E o menino de novo: « é samba ? ». Respondo : « não ». Muitos minutos depois, toca um sucesso em espanhol com uma leve batucada, o menino atravessa a pista, empurra alguns populares, corre na minha direção e grita : « é samba ? ». Respondo : « não ». Ele, que não é brasileiro mas também não desiste nunca, me diz : "não dá para você dançar a samba (samba em francês é feminino) com essa música ai mesmo?"


Depois desse episódio, que não foi o único, abracei de vez a causa da brasileira alegre.


Gravei um cd com axé, forro, samba, pagode, funk, enfim uma compilação de tudo o que é mais clichê do Brasil. Não satisfeita, organizei uma feijoada na casa de um amigo francês. Eu, que nunca havia feito uma feijoada na vida, me vi cozinhando feijão preto no micro ondas e atravessando Paris com uma tupperware transparente cheia de feijão sob os olhares de espanto e de curiosidade dos parisienses no metrô. E não é so isso, fiz farofa, assei um frango com outras duas amigas também brasileiras doutorandas em antropologia que fizeram pão de queijo e percorreram os muquifos mais estranhos da cidade atrás de farinha de mandioca e paio.


Engajada no meu patriotismo tipo exportação, ensinei meus amigos a preparar caipirinha (imprimi a receita de um site minutos antes da festa). O espetáculo de brasilidade foi por "aulas" de funk, com direito a uma explicação sobre a origem do funk carioca, coreografias de axé e de forró para os amigos gringos (há um vídeo para provar). No Natal, arrastei Melissa para a minha causa. Sim, a Melissa encontrou o seu lado quituteiro e preparou rabanadas comigo.


Minha gente, pressionadas pelos clichês, viramos uma outra pessoa.


Só espero não virar a brasileira de shortinho desfiado e tamanco/unhas de acrílico do avião.



Bônus clichê


Um vendedor de crepe na Bastilha vira para uma amiga brasileira depois de tentar adivinhar a nacionalidade da coitada umas 20 vezes. « A senhorita é brasileira? As brasileiras são quentes, né? »



terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Feliz Blog Novo

A gente era muito tensa quando fazia faculdade. Não aproveitamos o bastante. Dez anos depois, uma nova chance - ser jovem de verdade. Mestrado. E na Europa! Pela primeira vez, uma vida de tênis e despreocupação. Uma espécie de segunda adolescência. Muito MSN e Skype depois, resolvemos que as histórias bizarras que vivíamos e ouvíamos eram boas demais para não serem divulgadas. Coincidentemente, acabamos de chegar aos 30.

O que você não vai ler aqui:
- As agruras de ser balzaquiana
- A competição com as moças de 20
- Frases de auto-ajuda
- Manifestos contra os homens
- Dicas para conquistar a "cara-metade", a "alma gêmea", a "outra metade da laranja "o-di-a-mos essas expressões)

Cíntia e Melissa