Sexta-feira à noite. Surge um convite: festa de uma gravadora independente de rock. O local: uma espécie de galpão antigo às margens do canal Saint Martin. O público: jovens parisienses "branchés" (descolados, em francês). Aceitei o desafio.
No lugar, paredes pretas e tudo muito escuro. A média de idade de 24 anos com picos de 60 anos(roqueiros das antigas em busca de um novo som).
Começa o primeiro show. Uma menina deveria ter uns 18 anos, tocava o seu tecladinho retrô e cantava de forma meio desafinada para os meus ouvidos (ai, esses jovens...). O público, porém, aplaudiu com entusiasmo.
Segundo show. Aí começou um verdadeiro martírio. O que dizer? A minha impressão era que o líder do grupo havia ganhado um teclado Yamaha na véspera e resolveu apertar todos os botões e teclas do teclado de uma vez só. Cada música durava pelo menos uns 15 minutos para delírio da platéia e meu desespero. "É uma coisa experimental", me explicaram. "É conceitual", disse outro. Na minha cabeça, eu pensava como um velho :"isso aí, meu filho, não é música".
No palco todo preto, o grupo todo de preto tocava no escuro em meio à muita fumaça.
Diaólogo surreal.
eu: nossa, quanto tempo esse pessoal vai passar afinando os instrumentos?
interlocutor: ih, cíntia, essa já é a música. o show já começou.
A música em questão era uma longa seqüência de vogais com guitarras e bateria e uns gemidos. Tudo muuuito alto. Perdi 10% da minha audição com certeza. Resolvo dar uma volta. Fui ao banheiro. Na fila gigantesca, um gaiato jovem puxa papo.
gaiato jovem: impressionante essa banda, né?
eu: diferente...
gaiato jovem: vc não sente a influência de %&*$.
eu: quem? não conheço.
gaiato jovem: %&*$. Eles estão trabalhando muito na cena underground aqui em Paris e em Londres.
eu: ah, tá.
gaiato jovem: vc escuta o quê?
eu: os clássicos, David Bowie...
gaiato jovem: e assim mais atual?
eu: ah, sei lá, Franz Ferdinand. (crente que estava abafando)
gaiato jovem: ah, mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30.
(oops!, pensei eu).
Assumindo mentalmente a minha idade, fui procurar uma cadeira pra me sentar porque até chegar a hora do último concerto da noite, justamente o do meu amigo, ia ter que esperar muito e engolir muita fumaça de gelo seco.
Peguei minha coca sem gelo (ai, minha garganta) e fui sentar num cantinho numa cadeira de plástico. Foi isso. Minha juventude descolada durou duras horas.
Definitivamente, não basta colocar um all star para ser jovem.
sábado, 19 de janeiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Risada garantida! E uma leve impressão de já ter passado por isso tb de alguma forma, rsrsrsrs... Obrigada Cíntia. Bj!
"Mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30"!!!! Mete a mão na cara dele, Cíntia.
kkkk.... eu até imagino a cena, acho que passei por isso uma vez, não em Paris... mas em Maceió-jaraguá... para mais nunca!!!
esse post rendeu boas risadas verdadeiras desse cara aqui, do outro lado do oceano!!!!
beijão
Postar um comentário