quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Brasileira, eu sou

"Cíntia, esquece essa coisa de Geopolítica. Isso não dá camisa pra ninguém. Você está aí na França, vai rebolar esse bundão." Esse foi o conselho de um amigo brasileiro.
Eu confesso que sempre tive muitos pudores com nacionalismo, com o compromisso de ser a brasileira tipo exportação, de ser exótica, digamos. Também tenho horror da patotinha de "brasileiros contra o mundo" que tende a se formar entre estudantes brasileiros no exterior.

Eu gosto de samba, mas não gosto de Carnaval, nem de micareta nem de aglomerações populares (vulgo: muvuca), eu gosto de futebol, mas não sei fazer embaixadinha. Não bebo café. Não bebo cachaça. Não conheço a Bahia. Não tenho grandes discursos nacionalistas no estilo :« O povo brasileiro é que é bom » , «O Brasil é que é lugar bom para viver" etc. Nada disso importa, uma vez estando no exterior, qualquer uma com o passaporte República Federativa do Brasil é uma Gabriela, cravo e canela, em potencial. Impossível fugir dos clichês.


E seguem os exemplos :


Pub da moda, o dj coloca uma musica tipo salsa, um colega de faculdade que sabe que eu sou brasileira aponta para mim e pergunta : « é samba ? ». Respondo : « não ». Próxima música, o dj coloca um zouk. E o menino de novo: « é samba ? ». Respondo : « não ». Muitos minutos depois, toca um sucesso em espanhol com uma leve batucada, o menino atravessa a pista, empurra alguns populares, corre na minha direção e grita : « é samba ? ». Respondo : « não ». Ele, que não é brasileiro mas também não desiste nunca, me diz : "não dá para você dançar a samba (samba em francês é feminino) com essa música ai mesmo?"


Depois desse episódio, que não foi o único, abracei de vez a causa da brasileira alegre.


Gravei um cd com axé, forro, samba, pagode, funk, enfim uma compilação de tudo o que é mais clichê do Brasil. Não satisfeita, organizei uma feijoada na casa de um amigo francês. Eu, que nunca havia feito uma feijoada na vida, me vi cozinhando feijão preto no micro ondas e atravessando Paris com uma tupperware transparente cheia de feijão sob os olhares de espanto e de curiosidade dos parisienses no metrô. E não é so isso, fiz farofa, assei um frango com outras duas amigas também brasileiras doutorandas em antropologia que fizeram pão de queijo e percorreram os muquifos mais estranhos da cidade atrás de farinha de mandioca e paio.


Engajada no meu patriotismo tipo exportação, ensinei meus amigos a preparar caipirinha (imprimi a receita de um site minutos antes da festa). O espetáculo de brasilidade foi por "aulas" de funk, com direito a uma explicação sobre a origem do funk carioca, coreografias de axé e de forró para os amigos gringos (há um vídeo para provar). No Natal, arrastei Melissa para a minha causa. Sim, a Melissa encontrou o seu lado quituteiro e preparou rabanadas comigo.


Minha gente, pressionadas pelos clichês, viramos uma outra pessoa.


Só espero não virar a brasileira de shortinho desfiado e tamanco/unhas de acrílico do avião.



Bônus clichê


Um vendedor de crepe na Bastilha vira para uma amiga brasileira depois de tentar adivinhar a nacionalidade da coitada umas 20 vezes. « A senhorita é brasileira? As brasileiras são quentes, né? »



6 comentários:

Anônimo disse...

Gata!!!!!!! Amiga de Mel é minha amiga, rsrsrsrs... Ela já me falou tanto em vc q somos amigas de infância, viu? Qd precisarem de alguém para passar receitinhas "brasileiras" podem contar comigo. E... se as brasileiras são quentes como perguntou o vendedor de crepes: q eu saiba, temos a mesma temperatura média das mulheres (e homens) de outras nacionalidades, 36ºC. Ô, estereótipo terrível...
Ps.: se precisarem do shortinho desfiado... NÃO CONTEM COMIGO! kkkkkk!!!

Pedro disse...

esse cd é uma espécie de cultura brasileira i. logo, você terá de fazer a compilação cultura brasileira ii... daí, vai ter que incluir carimbó, calypso, josé augusto, boi garantido e caprichoso e quejandos... mais folclore!

Anônimo disse...

Tia Cíntia, eu adorei o biquíni carioca que ganhei. Estreei com estilo no verão da Bahia.

Unknown disse...

Mel, adorei o seu novo corte de cabelo. Style!

Beijos.

Anônimo disse...

Este texto está demaaaais. Eu deixei um recado aqui no dia em que li e o blogspot censurou minha mensagem.

Flavia Guerra disse...

meninas, vocês até que tão é bem. eu, que sou praticamente o protótipo da brasileira-exportação faz (eu adoro samba, amo carnaval, acho o Brasil incrível - o que não me impede de adorar o mundo todo - faço um brigadeiro belissimo, adoro cozinhar, faço caipirinha só de pinga pq adoro uma cachaça, e ainda toco até alfaia de maracatu), já não tenho paciencia para estes clichês...imagino voces aí. mas querem saber um lugar onde isso é pior? o reino da italia.
lá, eu já ouvi coisas do tipo: ela não ouviu nem a metade
flaves y los girasoles ciegos diz:
vai pra italia para ouvir do taxista que as 'brasileiras são otimas. sobretudo com a boca'
e não. eu não estava de shortinho desfiado e salto alto transparente. eu estava encapotada pq fazia um frio de cinco graus. mas, enfim, as brasileiras são quentes, né?
e outro taxista tb já me disse disse: quer ver um italiano feliz? dá uma brasileira para ele.
e eu perguntei: com ou sem lacinho no pescoço?
AFF... haja saco. o lance é dar risada. ou dar um chute nos países baixos. de resto, não há muito mais o que fazer.
beijo pra vocês e mais ótimas aventuras por aí