sábado, 19 de janeiro de 2008

O limite da juventude

Sexta-feira à noite. Surge um convite: festa de uma gravadora independente de rock. O local: uma espécie de galpão antigo às margens do canal Saint Martin. O público: jovens parisienses "branchés" (descolados, em francês). Aceitei o desafio.
No lugar, paredes pretas e tudo muito escuro. A média de idade de 24 anos com picos de 60 anos(roqueiros das antigas em busca de um novo som).
Começa o primeiro show. Uma menina deveria ter uns 18 anos, tocava o seu tecladinho retrô e cantava de forma meio desafinada para os meus ouvidos (ai, esses jovens...). O público, porém, aplaudiu com entusiasmo.
Segundo show. Aí começou um verdadeiro martírio. O que dizer? A minha impressão era que o líder do grupo havia ganhado um teclado Yamaha na véspera e resolveu apertar todos os botões e teclas do teclado de uma vez só. Cada música durava pelo menos uns 15 minutos para delírio da platéia e meu desespero. "É uma coisa experimental", me explicaram. "É conceitual", disse outro. Na minha cabeça, eu pensava como um velho :"isso aí, meu filho, não é música".
No palco todo preto, o grupo todo de preto tocava no escuro em meio à muita fumaça.
Diaólogo surreal.

eu: nossa, quanto tempo esse pessoal vai passar afinando os instrumentos?
interlocutor: ih, cíntia, essa já é a música. o show já começou.

A música em questão era uma longa seqüência de vogais com guitarras e bateria e uns gemidos. Tudo muuuito alto. Perdi 10% da minha audição com certeza. Resolvo dar uma volta. Fui ao banheiro. Na fila gigantesca, um gaiato jovem puxa papo.
gaiato jovem: impressionante essa banda, né?
eu: diferente...
gaiato jovem: vc não sente a influência de %&*$.
eu: quem? não conheço.
gaiato jovem: %&*$. Eles estão trabalhando muito na cena underground aqui em Paris e em Londres.
eu: ah, tá.
gaiato jovem: vc escuta o quê?
eu: os clássicos, David Bowie...
gaiato jovem: e assim mais atual?
eu: ah, sei lá, Franz Ferdinand. (crente que estava abafando)
gaiato jovem: ah, mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30.
(oops!, pensei eu).

Assumindo mentalmente a minha idade, fui procurar uma cadeira pra me sentar porque até chegar a hora do último concerto da noite, justamente o do meu amigo, ia ter que esperar muito e engolir muita fumaça de gelo seco.
Peguei minha coca sem gelo (ai, minha garganta) e fui sentar num cantinho numa cadeira de plástico. Foi isso. Minha juventude descolada durou duras horas.

Definitivamente, não basta colocar um all star para ser jovem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Risada garantida! E uma leve impressão de já ter passado por isso tb de alguma forma, rsrsrsrs... Obrigada Cíntia. Bj!

Anônimo disse...

"Mas isso não é pra nossa idade. É para esse pessoal de 30"!!!! Mete a mão na cara dele, Cíntia.

:: Caos :: disse...

kkkk.... eu até imagino a cena, acho que passei por isso uma vez, não em Paris... mas em Maceió-jaraguá... para mais nunca!!!
esse post rendeu boas risadas verdadeiras desse cara aqui, do outro lado do oceano!!!!
beijão