quinta-feira, 24 de abril de 2008

I am too sexy for haute couture* ou como pagar 500 euros para ficar gorda

Missão do dia: com 100 euros no bolso me produzir inteira (vestido + acessórios) para ir a um casamento no campo na Normandia. Na minha cabeça, eu tinha um vestido ideal. Discreto, preto ou grafite de tafetá (eu ando muito tafetá).

Comecei minha missão por um bairro popular de confecções judaico-chinesas, o Sentier. Muitos problemas. A maioria das lojas só vende no atacado e os vestidos, digamos de festa, são de uma mau gosto incrível, as que aceitavam vender no varejo não tinham cabines e cada vestido era disputado quase a tapas por milhares de sacoleiras. Um horror.

Voltei pra casa desanimada. Me olhei bem no espelho, olhei pro catálogo das Galeries Lafayette e decidi encarar uma loja de departamentos realmente glamour.

Primeiro passo: camuflagem. Não dá para encarar Dior, Chanel e Prada com cara de estudante bolsista. Todo mundo é blasé em Paris, mas também não dá para exagerar e chegar com cara de passa-fome entregando que, para comprar o vestido da vitrine, seria obrigada a vender um rim.

Descobri o look ideal: despojada. All star, jeans, blusa preta, uma jóia discreta, porém verdadeira (o pessoal dessas lojas fareja folheado a ouro a quilômetros). E maquiagem, porque rico não tem olheiras.

Devidamente camuflada, fui para os braços do mundo fashion.

Dica importante: fazer cara de tédio para as coleções.

Muito importante: tocar a roupa apenas com a ponta dos dedos e fazer um longo suspiro com uma cara de boring. Na verdade, eu estava mesmo entediada. O que está acontecendo com essa temporada? Todos os vestidos seguem a mesma tendência de serem amplos. Ou seja, todos os vestidos parecem feitos sob medida para fazer a pobre moça se sentir um bujão de gás. Why? E o pior é ter que desembolsar 500 euros, em média, para ficar fantasiada de baiana. Até o manequim, que é basicamente uma armação de arame, parecia estar com culote com a roupa. Nem digo o efeito que o vestido corte trapézio cheio de babados me provocou.

Fui passando Chanel, Dior, Valentino, Marc Jacobs. Tudo me deprimia (pensamento de pobre: ainda bem que eu não tenho dinheiro mesmo, a coleção esta péssima). Cheguei a Miu Miu e vi um dos vestidos mais bonito de todos os tempos, marfim, lindo corte, mas nem ousei experimentar. Estava nítido que precisaria de 20 cm a mais, 20 quilos a menos e 2089 euros.
Passei para os sapatos e encontrei a felicidade.

Experimentei um par de sapatos Prada tão lindos que fiquei até mais magra. Dúvida: comprometo minha renda para ter que, literalmente, morar no sapatos?

3 comentários:

Kadu____ disse...

Cíntia, vale sempre resgatar o mantra (que vc criou, por sinal :P):

"Não estou pobre, estou bonita. Não estou pobre, estou bonita."

Ou, talvez, uma versão "bombada" dele, pra aumentar ainda mais a auto-estima:

"Não estou pobre, estou chiquérrima. Não estou pobre, estou chiquérrima."

bjos!

Unknown disse...

Comprar sapatos é sempre uma grande redenção, darling. Uma experiência mística mesmo.

Unknown disse...

Gata... não reclama das lojas de departamento parisienses! Nas daqui as grifes não passam de "Clock House", "Annne Sei Lá Das Quantas" e afins... Ah! Se a gente tivesse 20 eu diria: compra os sapatos!!!!!!!! Bjs!